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O deslocamento do pico de consumo da energia elétrica é mais uma das respostas pretendidas pelo governo federal para poupar os reservatórios das hidrelétricas e evitar problemas na geração de energia em meio à crise no setor elétrico. Mobilizado para definir um novo programa que evite a concentração de consumo e o distribua dentro de outras faixas horárias (inclusive com possíveis incentivos financeiros à indústria), o Ministério de Minas e Energia já dispensou um velho conhecido do brasileiro: o horário de verão não será retomado.
Em nota enviada à Gazeta do Povo, o Ministério de Minas e Energia afirmou que "no momento, não identifica que a aplicação do horário de verão traga benefícios para redução da demanda".
A pasta reafirmou que tem estudado iniciativas para deslocar o consumo de energia elétrica dos horários de maior consumo para os de menor, de modo a otimizar o uso dos recursos energéticos disponíveis no Sistema Interligado Nacional (SIN), e que, "neste sentido, a contribuição do horário de verão é limitada" em decorrência de mudanças no hábito de consumo de energia da população, que deslocaram o pico de consumo diário para o período diurno em anos recentes.
A prática de adiantar os relógios em uma hora entre os meses de outubro e fevereiro foi aposentada pelo governo de Jair Bolsonaro já no primeiro ano de mandato após 35 anos de adoção ininterrupta no país. O decreto-lei que regulamentava a medida foi revogado mediante a avaliação de que ele já não atendia os objetivos de evitar sobrecarga do sistema elétrico durante o horário de ponta.
Antes registrada entre final de tarde e início da noite, essa concentração de demanda migrou devido a alterações no padrão de consumo do brasileiro e a medida de economia perdeu efetividade, de acordo com o Ministério de Minas e Energia. Atualmente, o momento de maior consumo simultâneo de energia no país ocorre no meio da tarde.
Conforme dados do Ministério e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o alívio proporcionado pelo horário de verão aos cofres da União vinha encolhendo. Em 2013 teriam sido poupados R$ 405 milhões com a adoção da medida (o equivalente a 2.565 megawatts). A partir dali a economia só diminuiu e se limitou a R$ 140 milhões em 2018.
Racionamento descartado e risco de crise hídrica
Com a pior afluência (entrada de águas nos reservatórios) em 91 anos, os volumes já vêm sendo preservados por meio de medidas como o acionamento de todo o parque térmico (e consequente alta na conta de luz), intercâmbio entre regiões e importação.
O governo também prepara medida provisória para agilizar a tomada de decisões relacionadas à gestão das barragens e criou gabinetes de crise para monitorar a situação e aplicar flexibilizações de operação quando necessário.
A preocupação com a geração de energia no atual cenário se baseia na ainda alta dependência brasileira das usinas de geração hidráulica, que compõem 65% da nossa matriz elétrica. Apesar dos reservatórios esvaziados, os cálculos feitos pelo ONS descartam o risco de racionamento ou de desabastecimento em 2021.