O HSBC se comprometeu a não realizar demissões em função do processo de venda da unidade brasileira. Representantes do banco declararam nesta terça-feira (7), após reunião no Ministério do Trabalho, que a negociação deverá ser longa e que, até a concretização de um acordo, os serviços serão mantidos no mesmo padrão atual. Embora não tenham estipulado um prazo, a informação dos bastidores do encontro é de que operação vai demorar no mínimo mais nove meses.
“Vamos continuar com a gestão normal. Com nosso turnover [plano de rotatividade de pessoal] funcionando da mesma forma”, disse o diretor de recursos humanos do HSBC, Juliano Marcilio.
O ministro Manoel Dias afirmou que a preocupação do governo federal é principalmente com a manutenção dos empregos. “É uma transação normal, comercial, e nós não temos como influir. Nós podemos é discutir o encaminhamento, sabido que o banco tem um quadro de alta especialização.”
A reunião foi mais uma etapa da “romaria” de políticos paranaenses por Brasília na busca de alternativas para amenizar prováveis prejuízos com a saída do HSBC do Brasil. Em reuniões com dirigentes do Banco Central, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), da CPI do HSBC, parlamentares e a vice-prefeita de Curitiba, Mirian Gonçalves (PT), têm procurado expor as perdas sociais que a transação pode causar.
O esforço serve mais como instrumento de pressão sobre o comprador do que uma interferência de fato na negociação. O acordo final, no entanto, deve passar pelo aval do BC e Cade. “Nas reuniões que tivemos com o Banco Central, fomos informados que, dependendo de quem entrar, cabem cláusulas sociais e de transição. Mas isso seria em um momento mais avançado do processo, não agora”, disse o deputado Ênio Verri.
Interessados
Analista da agência de avaliação de risco Austin Rating, Luis Miguel Santacreu avalia que o BC pode até ser sensível às demandas sociais que envolvem o caso, mas que não poderá reverter de fato uma perspectiva de demissões. Santacreu aponta que tudo depende do perfil do comprador. Se for um banco que já opera no Brasil, devem ser afetados principalmente os cargos da área administrativa, enquanto que uma empresa de fora pouparia esses postos, já que não teria estrutura no país.
“A apreensão sobre o desfecho do negócio se justifica. Não vejo uma coisa de mandar embora todo mundo no dia seguinte ao negócio, mas a tendência de qualquer jeito é de diminuir as vagas devido a uma análise de sobreposição: o novo dono está em busca de novos clientes e não ter gastos em dobro para determinadas atividades”, afirma o analista.
Até ontem, havia propostas de Santander e Bradesco pelo banco, além de especulações de uma possível entrada do Itaú e do Bancolômbia na concorrência. Os representantes do HSBC que foram ao ministério declararam não ter informação sobre o estágio dessas conversas.
Estrutura
O HSBC tem 7,1 mil funcionários em Curitiba, 5,8 mil deles empregados em cinco centros administrativos. Cerca de 700 operam na área de desenvolvimento de software e 600 em agências.
Além disso, pelos cálculos da prefeitura, o banco é o maior pagador de Imposto Sobre Serviços (ISS) da cidade. No ano passado, foram R$ 84 milhões, equivalente a 1,3% de toda arrecadação municipal.