Um dia após divulgar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), um dos levantamentos mais completo sobre as características da sociedade brasileira, de 2013, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) admitiu ter cometido erros "extremamente graves" na publicação. Já desgastada pela crise gerada com a greve dos servidores do órgão, a presidente do instituto, Wasmália Bivar, lamentou a falha.
INFOGRÁFICO: Veja dados do Pnad
"Nos cabe pedir desculpas à toda a sociedade brasileira", disse ela, que, por várias vezes ficou com lágrimas nos olhos durante entrevista convocada no fim da tarde de ontem. Logo após o erro do IBGE ter sido revelado, a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, informou que o governo irá constituir uma comissão de especialistas independentes para avaliar a "consistência" da Pnad.
O IBGE informou que a pesquisa será recalculada, mas já anunciou que os dados que medem a desigualdade da renda da população melhoraram e que a taxa de analfabetismo piorou. A maior diferença foi sentida nos indicadores de crescimento da renda média dos brasileiros, que registraram uma expansão bem menor do que a anunciada inicialmente.
O instituto refutou que tenha havido manipulação de resultados ou ingerência política. "Seria surrealista você divulgar um dado para depois corrigi-lo sob pressão", disse o diretor de Pesquisas do órgão, Roberto Olinto. E completou: "Encaramos esse fato como um infeliz acidente, estritamente técnico. Se a gente tivesse visto antes [da divulgação], não ia estar aqui pagando esse mico."
Com a correção, o índice de Gini medido a partir da renda do trabalho (que mensura a desigualdade) passou a 0,495 em 2013, contra 0,496 em 2012. Anteriormente, o instituto havia divulgado um índice de 0,498 para o ano passado quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. "Houve desconcentração de renda, ainda que pequena", afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
Tabela trocada
O IBGE explica que o erro ocorreu na hora de calcular a importância de cada região na pesquisa. Ao utilizar uma tabela errada, os resultados de sete estados foram influenciados: Paraná, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.
A metodologia da pesquisa usa a projeção populacional da região metropolitana da capital estadual para ampliar a amostra. Foram ouvidas na pesquisa 363 mil pessoas.
O erro ocorreu quando algum técnico usou de forma equivocada projeções de população do estado metropolitano ou seja, em estados com mais de uma região metropolitana, o resultado e consequentemente sua importância ficaram superestimados.
Há cinco meses, Ipea também falhou feio
A revisão nos dados da Pnad vem à tona cinco meses após outro instituto de pesquisa ligado ao governo admitir erro em um estudo sobre a violência contra as mulheres. Em abril, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou que 65% dos brasileiros concordavam, total ou parcialmente, com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas".
Uma semana depois da divulgação, que gerou polêmica no país, os pesquisadores revisaram o porcentual para 26%. O erro levou ao afastamento de um dos seus diretores e obrigou o órgão a fazer um pedido público de desculpas "pelos transtornos causados".
Na época, os técnicos do Ipea informaram que houve uma troca entre os gráficos da questão com a pergunta sobre "mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar".
O IBGE já teve outros problemas em pesquisas. Em novembro de 2011, o vazamento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) referente a outubro detonou uma crise no instituto. Uma mudança no sistema de disseminação de informações deixou, ao longo de pelo menos cinco meses, dados confidenciais de pesquisas disponíveis para consulta antes da divulgação oficial. O IBGE abriu uma sindicância para investigar o episódio, que revelou a fragilidade no sistema do órgão.
No mesmo mês, o anúncio de uma mudança na metodologia de cálculo do IPCA sem aviso prévio gerou uma série de críticas por parte de analistas do mercado financeiro. Além das críticas em relação à transparência da divulgação, mudanças nos pesos de itens como educação também foram questionadas. Antes, em novembro de 2009, o IBGE errou no cálculo no Censo Agropecuário, índice que mede a concentração de terra no país, divulgado no fim de setembro daquele ano.