“Acredito que haverá muitos gringos querendo vir para cá, principalmente para cargos de alta gestão em multinacionais ou em setores que estão em crise lá fora, como o de crédito imobiliário e o automotivo.” Ricardo Amorim, economista| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

A falta de qualificação dos trabalhadores brasileiros é resultado do problema histórico e estrutural da educação do país, e o principal gargalo de desenvolvimento em médio e longo prazo. Um dos resultados dessa deficiência é que no próximo ciclo de crescimento econômico é bastante provável que as empresas brasileiras tenham de contratar mais estrangeiros.

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"Provavelmente teremos um ano com mais imigração por causa da nova demanda", prevê o economista-chefe do HSBC, André Lóes. Nesse caso, segundo o economista Ricardo Amorim, o Brasil deverá atrair primeiro os brasileiros que trabalham no exterior e, depois, profissionais estrangeiros. "Acredito que haverá muitos gringos querendo vir para cá, principalmente para cargos de alta gestão em multinacionais ou em setores que estão em crise lá fora, como o de crédito imobiliário e o automotivo", avalia Amorim – ele mesmo um expatriado que decidiu voltar para o Brasil.

O professor do Instituto de Ciências Sociais do Paraná (ICSPR) e da Universidade do Contestado (UNC) Gildo Erzinger ressalta que o boom do mercado de trabalho dos últimos anos se concentrou nos cargos de nível operacional, nos setores mais básicos de serviços e da construção civil. "Isso é resultado do surgimento de pequenas empresas, e da tercerização pelas grandes. Os empregos com salários mais altos, de nível gerencial e de executivos, ainda não estão aparecendo na mesma proporção."

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Essa realidade cria um alerta para a carência de qualificação no mercado nacional, ao mesmo tempo em que justifica a imigração de trabalhadores. "O pleno emprego pode existir no Brasil, mas depende da qualificação. Mesmo setores básicos como construção civil e agricultura dependem de algum grau de experiência, instrução, conhecimento de máquinas e computadores. Hoje um cara bom de enxada não vai ser contratado na agroindústria. Ele precisa estar capacitado a mexer com máquinas", diz.

Mercado é insuficienteO especialista da Unicamp José Krein, alerta que o problema da qualificação profissional não pode ser resolvido exclusivamente pelo mercado. "Isso é paliativo. Com o avanço tecnológico, tanto na indústria quanto no campo a capacidade produtiva aumenta enquanto cai o número de empregados", diz. "O desafio é como continuaremos avançando na criação de empregos e na adaptação dos trabalhadores para as novas tecnologias", afirma. A partir da criação de políticas eficientes, de acordo com ele, são necessários de 15 a 20 anos para a qualificação entrar em sintonia com o ritmo do crescimento econômico.