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O Brasil terá de abrir a economia temporariamente se quiser controlar a valorização do real. A opinião é do economista Gustavo Franco, que presidiu o Banco Central de 1997 a 1999. "O problema do dólar baixo é a persistência do superávit comercial. Existe um excesso de oferta de dólares e excesso de oferta é algo que se resolve criando demanda", diz ele, propondo a suspensão das alíquotas de importação por um tempo determinado, de forma a se criar uma saída imediata de dólares do país.

"Não é possível ter um superávit comercial de US$ 45 bilhões e um câmbio favorável ao mesmo tempo. A persistência do superávit é surpreendente", avalia Franco. O ex-presidente do BC, que esteve ontem em Curitiba para o 7.º Encontro das Empresas Conveniadas ao Unicenp e falou com exclusividade à Gazeta do Povo, prefere não traçar um patamar ideal para o dólar. "O melhor do câmbio flexível é que não há compromisso com um valor específico. O governo faz a política de demanda de dólares e vai calibrando conforme a necessidade", diz.

Ele admite que a abertura das importações seria alvo de reclamações, mas descarta a hipótese de a entrada de mais produtos importados afetar a produção nacional a ponto de comprometer o crescimento do país.

"Não existe política econômica sem chiação. Os efeitos da importação não seriam tão relevantes a ponto de se descartá-la. Existe muito coitado de plantão. As empresas afetadas pela importação são aquelas incompetentes e ineficientes, que impõem ao mercado interno um produto de pior qualidade. Nos defendemos demais e por muito tempo das importações. Os benefícios gerais da abertura, neste momento, seriam muito maiores do que os prejuízos concentrados", avalia. Franco demonstra descrença sobre a possibilidade de crescimento do país com a implantação do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). "Esse plano foi feito muito mais para dizer que o presidente quer a aceleração do crescimento do que efetivamente promovê-la", critica.

Para o economista, o governo federal pode elevar sua capacidade de investimento, que hoje é de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), para no máximo 1,5%. "Para fazer o investimento sair dos atuais 16% do PIB para 35%, como ocorre nos países asiáticos, vamos depender totalmente do setor privado. As empresas terão de se endividar para dobrar o investimento que fazem hoje", afirma. Segundo ele, como já aconteceu em planos apresentados pelos antecessores de Lula, o PAC não deve passar de um "listão de medidas" que começam a ser tomadas e não têm continuidade porque o dinheiro acaba. "Este não é um governo pró-empresariado, não é neste governo que o setor privado vai investir", prevê.

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