A participação dos veículos importados no mercado brasileiro atingiu neste ano ao maior índice desde 1998 ano que antecedeu a desvalorização que derrubou o câmbio controlado da primeira fase do Plano Real. Naquele ano, os importados responderam por quase 20% das vendas no Brasil, mas elas passaram a cair após a crise do início de 1999, até bater em menos de 4% em 2004. Neste ano, até outubro, a fatia de mercado estava em 16%, o que equivale a 416 mil veículos. Entre os fatores que explicam a volta dos importados estão a valorização do real nos últimos anos, os acordos automotivos com outros países do Mercosul e com o México, e o excesso de capacidade de produção em mercados que foram mais atingidos pela crise. "Neste ano, só a China e o Brasil apresentaram algum crescimento nas vendas entre os principais mercados do mundo. Por isso não é de se estranhar a maior entrada de produtos de fora", diz Marcelo Cioffi, especialista no setor automotivo da consultoria PricewaterhouseCoopers.As importações se dividem em duas áreas. A primeira é de veículos com vendas elevadas e que complementam a oferta local. É o caso do Siena, da Fiat, o carro com maior volume de importações. Foram 46,5 mil unidades de janeiro a outubro vindas da fábrica em Córdoba, na Argentina, e que representam cerca de 40% das vendas totais do modelo. A General Motors faz o mesmo com o Classic Sedan, que também vem da Argentina.
Além de complementar a produção nacional, as montadoras instaladas no país trazem de fora modelos para rechear seus portfólios. "Boa parte das importações é de veículos de maior porte e preço, segmento no qual em muitos casos o Brasil não tem escala para justificar produção local", explica Letícia Costa, presidente da consultoria Booz Allen Hamilton no Brasil. Entram na lista modelos como o Hilux, da Toyota, o Fusion, da Ford, e o Captiva, da GM.
A escalada nas importações também é impulsionada pelo maior interesse de montadoras que não têm fábricas no país. Os casos mais emblemáticos são os das coreanas Hyundai e Kia, que fazem parte do mesmo grupo e têm investido pesado na expansão de suas vendas. A Hyundai, inclusive, emplacou o utilitário Tucson na lista dos 50 modelos mais vendidos no país, com 25 mil unidades até outubro. A demanda foi suficiente para que esteja em andamento o projeto de uma fábrica em Goiás."Como o mercado está aquecido, vamos ver outras tentativas de introdução de novas marcas", diz José Rinaldo Caporal Filho, diretor da consultoria Megadealer. Ele destaca que o movimento mais intenso vem da Ásia. No ano passado, a japonesa Suzuki, que havia desistido de operar no país, decidiu voltar ao Brasil com o modelo Vitara. A coreana SsangYong e as chinesas Chery e Effa também estão aprimorando a distribuição no país. "Só na China existem mais de 100 montadoras. Muitas delas terão interesse no Brasil", completa.
Os produtos chineses, porém, terão de vencer a imagem de ter pouca qualidade. "A ameaça chinesa é de mais longo prazo. Os produtos ainda estão aquém em qualidade. Eles terão de superar um certo preconceito com relação aos seus produtos, já que não têm tradição no setor", diz Letícia, da Booz Allen.
Será um trabalho parecido com o que estão fazendo as montadoras coreanas. "Investimos de forma agressiva em marketing, patrocinando grandes eventos, e hoje o consumidor já conhece a marca", diz o diretor de vendas da Kia, Ary Jorge Ribeiro. Segundo ele, a renovação e ampliação da linha de produtos, aliada à concessão de garantia ampla, de cinco anos, está fazendo com que a montadora suba no conceito do consumidor. A Kia reponde hoje por 1,1% do mercado brasileiro, com vendas estimadas em 25 mil unidades trazidas da Coreia neste ano, 25% a mais do que em 2008. "Queremos crescer mais rápido que os outros e chegar a 2% do mercado em 2010", diz.