Selic influencia taxas do mercado
Além de mais criteriosos, os bancos também estão impondo taxas de juros mais salgadas para quem vai fazer um empréstimo. O Banco Central já aumentou quatro vezes a taxa de juros Selic neste ano a última em 28 de agosto, para 9% ao ano. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac), as taxas de juros já acompanham esse movimento.
Em julho (dado mais recente), das seis linhas de crédito pesquisadas pela Anefac, cinco subiram os juros comércio, cheque especial, financiamento de automóveis, empréstimo pessoal pelos bancos e empréstimo pessoal por meio de financeiras. O Paraná ficou, em julho, com a maior taxa de juros cobrada no país no crediário, com 63,46% ao ano.
Os spreads (diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar os recurso e as taxas cobradas para emprestar) também estão mais altos, segundo o Banco Central, e chegou a 25,7 pontos porcentuais para pessoas físicas.
De olho no Natal
Para Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de estudos financeiros da Anefac, a tendência é que, com o aperto monetário do Banco Central via aumento de taxa de juros, as condições do crédito se mantenham menos favoráveis nos próximos meses. "Talvez, para o Natal, as condições melhorem um pouco, mas isso vai depender de como a economia vai ficar até lá", diz.
Apesar da queda da inadimplência, os bancos ainda não afrouxaram o crédito para o consumidor. A piora na conjuntura econômica está fazendo com que os bancos, principalmente privados, mantenham a cautela na concessão de empréstimos. O novo ciclo de alta da taxa básica dos juros (Selic), por sua vez, já encareceu os financiamentos.
INFOGRÁFICO: Veja como está o acesso ao crédito
Segundo pesquisa da Fecomércio-PR, o porcentual de famílias que acreditam que o acesso ao crédito está mais fácil caiu de 81,8% em agosto de 2012 para 69,9% no mesmo mês deste ano. Em compensação, os que acreditam que está mais difícil contratar crédito para compras a prazo aumentou de 13,3% para 16%.
A dificuldade aumenta justamente em um momento em que a inadimplência está caindo. No último ano, o calote (dívidas não pagas por mais de 90 dias) caiu de 8,2% para 7,2% entre as pessoas físicas nos chamados recursos livres, que medem principalmente o crédito para consumo.
"Em tese, a inadimplência em queda reduz o risco do sistema, o que seria um motivo para os bancos voltarem a emprestar e melhorar as condições oferecidas, mas isso não vem ocorrendo", diz Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de estudos financeiros da Anefac.
Segundo ele, os bancos olham para frente e têm dúvida sobre o crescimento do país. A alta dos juros esfria ainda mais a economia e pode gerar mais inadimplência e desemprego no futuro.
Rigor na aprovação
O cenário de incertezas torna os bancos mais rigorosos na aprovação dos cadastros dos clientes, com maior número de exigências para liberação dos financiamentos e um acompanhamento mais abrangente do histórico de pagamentos.
Sobre esse comportamento pesa ainda um outro indicador, o de dívidas com atrasos entre 15 e 90 dias. Considerado um antecedente da inadimplência, esse porcentual registrou leve piora de junho para julho de 6,5% para 6,6% da carteira de empréstimos, o que significa que possa haver um repique de inadimplência nos próximos meses.
Com exceção do crédito imobiliário, os bancos estão mais seletivos em todas as modalidades de empréstimos, segundo o economista Fábio Tadeu Araújo, professor da PUC-PR. "Os bancos olham a localização e o tipo de carteira de empréstimos. E a rigidez é maior em setores onde a inadimplência, mesmo em queda, ainda está alta", diz.
Influenciadas principalmente pelo mercado imobiliário, as concessões de crédito para pessoas físicas continuam crescendo, mas em ritmo mais modesto, segundo o Banco Central. O avanço, que girava em 15% ao ano, hoje está em 10%. Em julho, atingiu R$ 133,6 bilhões. Com os bancos privados mais seletivos, os bancos públicos têm aumentado a participação da concessão de empréstimos. Em julho, eles representaram 50,5% do estoque. Um ano antes, esse porcentual era de 45,6%.
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