O dólar ficou mais caro pelo segundo dia no mercado de câmbio doméstico, ainda sofrendo do "susto" dos agentes financeiros com a munição pesada utilizada pelas autoridades econômicas na tentativa de conter a desvalorização da moeda norte-americana. Até terça-feira, muitos profissionais do setor financeiro já miravam R$ 1,50 como o mais provável "piso" para o câmbio; ontem, no entanto, alguns especialistas já passavam a contemplar o retorno das cotações para R$ 1,58 ou R$ 1,60. Ontem, o dólar chegou a ser negociado na cotação máxima de R$ 1,570, mas encerrou o pregão em R$ 1,566, com alta de 0,57%.A verdade é que os agentes financeiros ainda avaliam os efeitos das medidas anunciadas na quarta-feira pelo governo, embora já existam alguns consensos: efetivamente, o governo aumentou seu poder de intervenção nos negócios; as novas regras tendem a inibir a especulação com a moeda; e devem encarecer algumas operações para exportadores.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já acenou com mais "artilharia": em entrevista ao canal Globonews, adiantou que o governo pode elevar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que vai incidir sobre os derivativos, caso julgue que os níveis atuais sejam inócuos para conter a queda livre do câmbio. "Se 1% for pouco (...) a gente aumenta. O limite é 25%", afirmou.
A medida provisória publicada na quarta-feira aumenta os poderes do governo para regular as operações com dólar no mercado futuro, que tem enorme influência na formação dos preços no mercado à vista. Também aumenta a taxação de IOF incidente sobre os negócios com a moeda.
O professor de Finanças do Ibmec-RJ, Gilberto Braga, elogia as novas medidas, embora ressalte: "Efetivamente, não resolve o problema [da depreciação cambial], mas contribui". Para o especialista, o governo mudou de estratégia e adquiriu "uma caixa de ferramentas muito maior", o que pode ter assustado os participantes do mercado financeiro.
Cobrança
O Ministério da Fazenda avisou ontem que pretende se reunir com integrantes dos bancos para discutir a implementação das novas medidas, e que somente deve passar a cobrar os tributos a partir de outubro mas retroativos a quarta-feira, quando foi baixado o decreto.