O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reúne-se nesta terça (21) e quarta-feira (22) para definir o novo nível da taxa básica de juros (Selic), hoje em 9,25% ao ano. Nem analistas nem investidores estão lá muito preocupados com a decisão porque dão como certo um corte de 0,50 ou 0,25 ponto porcentual. A atenção deles está voltada para o futuro. Pela primeira vez em muito tempo, mercado financeiro e BC estão em lados opostos em relação às perspectivas de médio e longo prazos para a Selic. As explicações para a divergência vão além dos fatores técnicos. Se é verdade que o movimento não é exclusividade brasileira, tampouco se pode negar que o risco político já afeta as expectativas para os juros.
Esse risco se divide em dois. Uma parte está relacionada à sucessão presidencial em 2010, uma vez que os dois principais candidatos, Dilma Rousseff e José Serra, são considerados "heterodoxos" demais pelos investidores. Ou seja, ambos tenderiam a ser menos conservadores na condução das políticas fiscal e monetária. A apreensão de mercado pode até se basear em especulações, mas ela influencia variáveis importantes da economia.
"Seja Serra ou seja Dilma, o fato é que o ministro da Fazenda será Luciano Coutinho (atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)", diz um economista, em tom jocoso. "O (atual ministro Guido) Mantega também é heterodoxo, mas tem uma diferença importante em relação a Coutinho: por ser maleável, segue a linha pragmática de Lula. Coutinho implementaria na prática o que pensa." Outro especialista, bastante respeitado pelos seus pares de mercado, centra fogo em Serra. "O governador diz, não é de hoje, que os juros deveriam ser mais baixos e o dólar, mais valorizado. Ora, todos os países que adotaram essa política tiveram um resultado: inflação."
Outra parte do risco está ligada à indefinição sobre as ambições eleitorais do presidente do BC, Henrique Meirelles. Várias perguntas estão na cabeça dos investidores: Meirelles será ou não candidato ao governo de Goiás? Se sim, quando deixará o BC? Se deixar, quem será o substituto? O substituto terá força para aumentar os juros, caso necessário, levando-se em conta que 2010 é ano eleitoral? Procurado pelo Estado, o presidente do BC não se manifestou. Sexta-feira, os contratos de juros negociados na BM&F projetavam taxa Selic de 8,65% em janeiro de 2010, 9,68% em janeiro de 2011 e 10,91% em janeiro de 2012. Comparadas a uma Selic de 8,75% (aposta majoritária do mercado para o Copom desta semana), as projeções da BM&F embutem uma alta de um ponto porcentual do juro ao longo de 2010. Portanto, ao menos em tese, a Selic entre 8,75% e 9% seria suficiente para manter a inflação na meta.
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