O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) dará hoje seu veredito para a taxa de juros sob um cenário mais que incerto. No front interno, o ambiente parece mais tranquilo do que há algumas semanas, com as expectativas de inflação dentro do intervalo da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, de 2,5% a 6,5%. O problema está lá fora: há chances reais de um acirramento na crise europeia, com consequências imprevisíveis para a economia global.
A maioria dos bancos e consultorias trabalha com a certeza de que o Copom deve reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto porcentual hoje para 10,5% ao ano. O consenso pelo menos até o rebaixamento das dívidas de 16 países europeus e do fundo comunitário de socorro, nos últimos dias era de que o comitê deveria empreender duas reduções de juros no primeiro semestre deste ano. Assim, a taxa Selic chegaria ao meio do ano em 10% e eventualmente poderia voltar a subir na sequência, de forma a manter a inflação controlada.
Essas previsões tendem a ser revistas nos próximos dias. "É um dos cenários mais delicados que eu já vi", diz Nastassia Romanó Leite de Castro, economista da corretora Omar Camargo Investimentos.
O que torna o cenário difícil de ser definido é a presença de forças opostas. A Europa está no centro de uma delas, devido à crise. Do outro lado estão os Estados Unidos, cujos indicadores apontam para a recuperação de uma economia ainda combalida desde a crise de 2008. Dados de emprego e da construção civil demonstram que o país está superando os problemas. Em se tratando da maior economia do mundo, com um PIB de US$ 15 trilhões (o dobro da China, que tem a segunda economia do mundo), a notícia é boa.
A China é outro fator que teve reflexos positivos. De 2008 para cá, com seu crescimento estrondoso, o país oriental tem "segurado" os níveis globais de demanda. Nos últimos meses, entretanto, cresciam os temores de que uma desaceleração no crescimento chinês poderia comprometer a capacidade de recuperação da economia global. Dados divulgados ontem mostraram que a China cresceu 9,2% no ano passado, superando largamente as expectativas de 8% de algumas instituições.
"O PIB menor da China, e provavelmente dos demais emergentes, está de acordo com a forte elevação de 2010 depois do desastre de 2009. Mas também é um sinal de arrefecimento econômico devido aos efeitos colaterais negativos produzidos pela crise de crédito nos chamados desenvolvidos", diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
A possibilidade de a economia internacional rumar para uma desaceleração ou até mesmo à recessão influi na decisão do Copom. Em ambas as hipóteses, as exportações brasileiras diminuiriam, abatendo os ganhos das empresas e, em consequência, também dos trabalhadores.
Nesse caso, a demanda cai e os preços tendem a se manter ou até a baixar, o que garantiria uma inflação baixa ambiente em que a taxa de juros poderia cair mais, de forma a estimular a economia. Por outro lado, se a economia global se sustentar, voltará o temor de aumento na inflação. "O aumento do salário mínimo e os dissídios trarão pressão sobre os preços", diz Nastássia, da Omar Camargo.