Hospital das Nações planeja ampliar o número de leitos gradualmente, mas diz que o momento econômico não é “adequado”| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Verba

Linhas de financiamento são restritas, reclamam instituições médicas

Um empecilho para o investimento de hospitais privados é o acesso a linhas de financiamento. Elas existem, mas a principal regra – comprovar que as contas estão em dia – é o principal obstáculo para as instituições. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financia maquinário e reformas de hospitais particulares e filantrópicos desde 2008. As linhas tiveram pico de demanda entre 2011 e 2012, mas houve queda expressiva no ano passado. Em 2013, foram contratados R$ 578 milhões para o setor, mas os destinos foram apenas três instituições, todas no Sudeste.

No estado, poucas instituições revelam planos de ampliação para os próximos anos. Com base na demanda crescente de planos de saúde, o Hospital das Nações, em Curitiba, afirma ter um plano de reforma em análise que prevê ampliação gradual dos atuais 85 leitos para 320. Mas falta financiamento e momento econômico adequado. A instituição percebe que o atendimento de usuários de planos hoje não gera lucro e que os financiamentos são "burocráticos".

Inaugurado em 2011, o Hospital Marcelino Champagnat, na capital, ainda é um dos últimos grandes investimentos do setor no estado. Foi erguido ao custo de R$ 65 milhões, 60% dos quais financiados pelo BNDES. O hospital ainda está longe de atingir capacidade máxima, mas investe em gestão para evitar problemas futuros, diz o diretor Claudio Lubascher. A intenção é manter foco em planos (90% da clientela) e pacientes particulares. "Os hospitais hoje não têm e não terão possibilidade de abrir novos leitos", diz.

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Concorrência

Investimento em rede própria ameaça mercado de clínicas particulares

Impasses na negociação de contratos nos últimos anos revelam outra mudança do setor de saúde privada. De clientes dos hospitais, operadoras passaram a concorrentes ao investir em rede de atendimento própria. A tendência inspirou uma linha de financiamento do BNDES que entrou em vigor em julho, voltada à captação de recursos por cooperativas médicas que operam planos.

A Fenasaúde, entidade que representa operadoras de planos, preferiu não comentar o assunto. Já a Anahp salienta que a estratégia é válida desde que não tenha como única intenção cortar custos sem manter a qualidade dos serviços. As operadoras têm uma vantagem para captar recursos: podem receber capital estrangeiro, o que é vetado a hospitais por lei. As instituições reivindicam que o governo reabra a discussão sobre o assunto, que o setor avalia ser tabu político, assim como subsídios tributários ou trabalhistas.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar afirma que tem atuado para que usuários de planos não sejam prejudicados em meio à batalha por mercado. A reguladora ressalta que suspendeu a venda de 868 planos de 113 operadoras que não atenderam aos prazos-limite para marcação de consultas e procedimentos – o principal efeito da disputa.

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O número crescente de brasileiros com planos de saúde preocupa os hospitais privados, que têm apresentado dificuldades financeiras para investir na melhoria do atendimento aos pacientes. A previsão para os próximos anos é de um gargalo ainda mais estreito. Enquanto a quantidade de usuários cresceu 18% entre 2009 e 2013 – passou de 42,6 milhões para 50,3 milhões –, o número de leitos aumentou apenas 5%. A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) projeta que, caso o crescimento da demanda aumente no mesmo nível registrado entre 2012 e 2013 – cerca de 4,6% –, serão necessários R$ 7,5 bilhões em investimentos até 2016.

INFOGRÁFICO: Veja informações sobre os leitos hospitalares

Endividados ou com problemas para manter a rentabilidade há uma década, os hospitais particulares estão pouco otimistas em relação a receber ajuda externa. Neste ano, Anahp e federações tentaram emplacar, sem sucesso, a inclusão do segmento no pacote de desoneração da folha de pagamento do Programa Brasil Maior, do governo federal, que já beneficiou 56 setores desde 2011. "Estamos buscando uma discussão com governo e outros setores sobre desoneração tributária e facilidade de crédito, mas até agora não conseguimos nada", resume o presidente da Anahp Francisco Balestrin, também diretor do grupo Vita.

Se a situação continuar assim, é possível que mais hospitais tenham de aceitar pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) para ganhar escala e restringir contratos com planos de saúde, optando pelos de remuneração mais conveniente. Para usuários de planos, isso pode significar mais filas e dificuldade para achar atendimento. Extraoficialmente, o cenário atual incentiva os hospitais a buscar novas fontes de renda que são polêmicas entre os usuários, como a cobrança de tarifa nos estacionamentos.

Desatualização

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A inauguração de novas tecnologias de medicina no país, papel tradicional dos hospitais privados, pode se tornar mais lenta, diz Balestrin. "Com o tempo, se não houver remuneração [no caso, aumento dos valores contratados pelos planos dos hospitais], você não consegue se manter up to date [atualizado]. É um medo do mercado. Se não encontrarmos alternativa, ele entrará em decadência", sentencia.

Já antiga, a queda de braço financeira entre hospitais e planos de saúde por remuneração ganhou patamar diferente no ano passado. O impasse na negociação de contratos – os hospitais alegam custos que superam a correção pela inflação, proposta clássica dos planos – fez com que a rede de atendimento de certos planos reduzisse a ponto de ser sentida pelo consumidor. Na tentativa de resolver o problema, foi criada a Lei Federal 13.003, que entra em vigor no fim de dezembro. A norma exige que contratos com prestadores de serviços sejam feitos e renovados por escrito, com garantias de atendimento para o usuário.

Interatividade

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