Nomear para o Ministério da Fazenda um representante do setor financeiro seria uma tacada certeira para acalmar o mercado e restabelecer rapidamente a confiança de investidores e empresários. Mas não é imprescindível que o novo ministro venha de um banco algo que, aliás, nunca ocorreu desde a redemocratização.
A questão é que um nome do setor empresarial não financeiro ou da academia talvez demore mais para ser "absorvido" e tenha de fazer um esforço maior para conquistar os chamados "agentes econômicos". A avaliação é de economistas consultados pela Gazeta do Povo.
Na hipótese de que a presidente Dilma Rousseff queira mesmo alterar o rumo da política econômica, é consenso que o novo ministro precisa de autonomia, o que poucos viam em Guido Mantega. Por isso, quanto mais alinhado a presidente for o escolhido, mais difícil será resgatar a credibilidade.
"O perfil do novo ministro faz diferença porque o governo perdeu credibilidade", diz Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de Economia da PUC-SP. Segundo ele, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, um dos cotados para assumir o cargo, reúne as qualidades ideais. "Chamar alguém da indústria seria interessante, mas pode despertar a desconfiança do mercado, por passar a impressão de que a política econômica continuará a mesma, de subsídios e proteção à indústria."
Compromisso
Para o economista Otto Nogami, professor do Insper, o ministro ideal combinaria passagem pelo setor financeiro com um robusto arcabouço acadêmico algo que ele vê em Armínio Fraga, "nomeado" por Aécio Neves na campanha eleitoral. Na falta de candidatos com essa combinação, o economista vê como boas opções o presidente do Bradesco e também Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. "Eles são gestores, com capacidade para equilibrar a economia, e uma eventual insuficiência acadêmica pode ser complementada por uma assessoria forte, como Meirelles tinha no BC."
O consultor Roberto Troster, que foi economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), defende que mais importante que o nome do futuro ministro é o compromisso com uma mudança de direção na política econômica. "Um bom nome ajuda, mas não é fundamental. Pode ser um acadêmico, um executivo, um político, desde que esteja disposto a fazer o que é preciso. O Antonio Palocci [ministro da Fazenda de 2003 a 2006], médico e político, fez o que tinha de ser feito", lembra.
Bom trânsito
O presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Enriquez Garcia, acredita que não se pode abrir mão de um "nome forte", com bom trânsito em instituições internacionais e no setor privado. "A figura de quem assume o cargo ganha importância em momentos críticos como o atual. Chamar um político, um ex-ministro, não vai restaurar a confiança", avalia.
Entre os concorrentes que correm por fora está Otaviano Canuto, consultor sênior do Banco Mundial. A favor dele conta o fato de aliar credibilidade no mercado e sensibilidade a temas caros ao governo, como as políticas sociais. "É um meio termo", diz um economista que pediu para não ser identificado.
Bolsa
Ibovespa avança 3,6% em meio à expectativa sobre equipe econômica
Das agências
Especulações sobre nomes da nova equipe econômica do governo federal fizeram o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, subir 3,62% ontem, atingindo 52.330 pontos. O volume de negócios totalizou R$ 9,328 bilhões. No ano, a bolsa acumula alta de 1,60% e no mês de outubro, baixa de 3,30%. Após a reação negativa de segunda-feira à reeleição da presidente Dilma Rousseff, as atenções dos investidores estão concentradas na definição de quem comandará o Ministério da Fazenda e nas medidas prometidas pela presidente para impulsionar a economia.