O alto custo e baixa competitividade da indústria farmacêutica brasileira têm levado distribuidores, fabricantes e até o poder público a buscar alternativas na Índia, chamada de farmácia do mundo. Responsável por 10% do volume de medicamentos produzidos em todo o planeta, a indústria indiana equilibra preços competitivos e qualidade e, depois de abrir portas em mercados com regulamentação, mira o Brasil como parceiro potencial.
Organizados pela Câmara de Comércio Índia Brasil e a convite do governo indiano, 15 empresários, consultores e especialistas da área farmacêutica estiveram na Iphex, feira mundial de negócios e exposição da indústria de medicamentos, realizada em Mumbai, em busca de oportunidades de negócio. “A inovação é o que move esta indústria, nosso sucesso está em garantir qualidade a baixo custo. Sabemos que o Brasil tem um controle rígido e estamos dispostos a atendê-lo”, disse Shri Ashutosh Gupta, presidente do conselho promotor das exportações do setor farmacêutico da Índia, Pharmexcil, e CEO da Medicamen, fornecedora da curitibana Nunesfarma.
Com uma lei de patentes restrita aos processos de fabricação e não aos produtos, o país quebrou registros internacionais em território indiano e se tornou líder na fabricação de genéricos. “Nosso desafio é desacreditar as companhias que disseminam a desinformação de que os genéricos são ineficazes e evitar que outros países sejam levados por isso”, diz o Secretário Geral do Ministério do Comércio indiano, Rajeev Kher.
Depois investir em mão de obra especializada e inovação, a Índia produz medicamentos acessíveis e de qualidade e atua em desde mercados pouco regulamentados aos mais rígidos, como o europeu e o norte-americano. Os indianos procuram agora entender o vasto e pouco competitivo mercado brasileiro. “Temos dois interesses: ajudar o Brasil a sustentar seu sistema de saúde pública e oferecer novas tecnologias para conseguir produtos de qualidade a preços competitivos”, diz Kher.
Empresários brasileiros perceberam a competitividade da indústria indiana e as possibilidades de utilizá-la como fornecedora ou mesmo deslocar sua produção para o país. Mas questões regulatórias, a burocracia, os altos custos trabalhistas e outros impostos impedem a consolidação da parceria. “A Anvisa dificulta a entrada de novos produtos e tecnologias em uma medida que pode ser considerada um protecionismo disfarçado”, afirma Michael Lund, consultor jurídico de investimentos estrangeiros e transações internacionais da Coimbra & Chaves Advogados.
Experiência de sucesso
CEO da distribuidora de medicamentos Nunesfarma, Fernando Cesar da Silva descobriu há sete anos os fornecedores indianos.“Vi que companhias das quais nunca havia ouvido falar são fornecedoras das maiores marcas internacionais”, diz. Hoje, a empresa possui um escritório na Índia e viu a oportunidade de lançar sua marca própria com produtos fabricados no parceiro asiático. Com lançamento de quatro produtos em 2015, a Nunesfarma tem mais 50 em processo de aprovação. “Fazemos visitas constantes às fábricas, acompanhando desde os testes de qualidade até a produção comercial. Com uma adequação do setor regulatório aos níveis internacionais, a indústria indiana poderá ser mais presente no mercado brasileiro”, diz Mauro Federici, executivo de desenvolvimento de negócios da empresa.