Como gesto para desanuviar as relações entre o Brasil e a Índia, o ministro indiano de Comércio, Kamal Nath, desculpou-se na quinta-feira (2) com o chanceler Celso Amorim pelas menções que fez ao Brasil em carta enviada no último dia 17 ao diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Na carta, Nath havia acusado o Brasil de barganhar sua posição nas negociações agrícolas da Rodada Doha em troca do acesso do etanol brasileiro aos mercados dos Estados Unidos e da Europa.
Quinta-feira, por telefone, o ministro indiano adotou um discurso afinado com as propostas de seu interlocutor ao defender o reforço do G-20, o grupo de economias em desenvolvimento que negocia em conjunto o capítulo agrícola da Rodada e que é liderado justamente pelo Brasil e pela Índia. Também propôs um encontro bilateral no próximo dia 14, em Nova Délhi.
Amorim relatou ontem a colaboradores que Nath afirmou que não tinha interesse de acusar o Brasil na carta e que apenas teria mencionado ligeiramente o País no seu texto de três páginas. Como freqüentemente ocorre em casos como esse, seja no Brasil ou na Índia, o ministro indiano preferiu culpar a imprensa por ter pinçado a menção e a interpretado como uma acusação. Na carta, entretanto, Nath insinuou que o Brasil havia abandonado o interesse dos seus aliados emergentes para negociar uma cota mais ampla para o etanol nos Estados Unidos e na Europa.
"O tema (das cotas agrícolas mais amplas para novos produtos sensíveis dos países desenvolvidos) continua sem conclusão, com o Brasil dando sinais de que poderia analisar a proposta se lhe fossem dadas cotas substanciais para o etanol nos EUA e Europa", afirmou Nath no texto, para surpresa dos principais negociadores brasileiros. "Não barganhamos nada. A criação de cotas nem sequer é a saída preferida para nós", rebateu o embaixador Roberto Azevêdo, chefe da missão do Brasil na OMC, no último dia 26, dia em que a notícia sobre a carta foi publicada pelo Estado.