Parreiral no Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul, que já tem indicação geográfica| Foto: Ana Carolina Nery/ Gazeta do Povo

Rio de Janeiro - Os vinhos finos brasileiros en­­saiam o seu passo mais audacioso. Mais de 60 vinícolas do país, em especial as do Rio Grande do Sul, estão se preparando para obter indicações geográficas, selo que permite rastrear a origem da bebida e eleva o controle de qualidade. Os aromas, porém, virão acompanhados de preços maiores: o registro, necessário para exportar para a União Europeia, vai encarecer os rótulos em até 15% no Brasil.

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Hoje, só o Vale dos Vinhedos, que reúne 31 vinícolas em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, conta com a indicação geográfica, concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) em 2002. Mas a lista irá aumentar nas próximas semanas, quando chegam ao mercado os vinhos de seis produtores da região de Pinto Bandeira, vizinha de Bento Gonçalves, que acaba de obter o selo. Até 2012, diz o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e a Embrapa, o seleto grupo contará com mais seis regiões: quatro no Rio Grande do Sul, uma em Santa Catarina e outra em Pernambuco.

O movimento, no entanto, começa tarde no Brasil, já que Argentina e Chile iniciaram esse processo há anos. Para especialistas, a qualidade dos vinhos nacionais irá aumentar, já que é preciso seguir várias regras durante o processo de fabricação e de seleção de uvas.

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As associações do setor dizem ainda que o selo, impresso nos rótulos das garrafas, impulsiona o consumo e o desenvolvimento de novas tecnologias. Segundo o Ibravin, o Brasil comercializou 242 milhões de litros de vinhos no ano passado. Em 2009, as importações chegaram a 59,1 milhões de litros, e as exportações alcançaram 1,1 milhão de litros.

"As indicações geográficas são importantes, pois, com elas, é possível exportar. Isso é vender a imagem do Brasil", diz Deise Novakoski, "sommelier" do restaurante Eça, no Centro do Rio.

Seis regiões do país querem selo de origem

A Embrapa trabalha hoje com seis regiões do país para obter a indicação geográfica, revela o pesquisador do órgão Jorge Tonietto. Ele cita as 18 vinícolas de Farroupilha, no Rio Grande do Sul (RS), área conhecida pelas uvas moscatel. Tonietto lembra ainda que vem analisando o solo e as uvas de 12 produtores dos municípios gaúchos de Flores da Cunha e Nova Pádua, que criaram a Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes para obter a indicação. "Monte Belo é outro município gaúcho que já se estrutura, contratando pessoas qualificadas. O mesmo acontece em Cam­panha, próximo ao Uruguai. Vale dos Vinhedos é um exemplo para todos, com forte influência."

Mas o movimento ultrapassa as divisas do Rio Grande do Sul. Há um projeto em Acavitis, em Santa Catarina, onde há seis vinícolas, localizadas a mais de 900 metros de altura. O Vale do São Francisco, que abrange os municípios de Santa Maria da Boa Vista, Petrolina e Casanova, entre Bahia e Pernambuco, também segue na lista, com outras seis vinícolas.

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Para Diego Bertolini, gerente de Marketing do Ibravin, os selos permitem a diferenciação de parte dos 12 mil rótulos à venda no Brasil, o que ajuda a estimular a venda de vinhos finos, que hoje respondem por 30% do consumo brasileiro. Os vinhos de mesa (os populares garrafões) somam 70% do mercado.

Adelar Brandelli, que comanda a vinícola Don Laurindo, em Bento Gonçalves, diz que os preços irão aumentar até 15%. Mesma opinião tem Aldemir Dadalt, presidente da As­­so­­ciação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale): "Muitas pessoas ainda têm a imagem de que o vinho brasileiro é ruim. E, por isso, o consumidor irá pagar entre 10% e 15% mais com satisfação", afirma.

Hoje, o Vale dos Vinhedos, que representa 20% dos vinhos finos vendidos no Brasil, quer dar um passo além. Para isso, espera receber em novembro sua denominação de origem, a primeira de toda a América do Sul. "Na indicação geográfica, entram todas as uvas produzidas na região. Na denominação de origem, são selecionadas apenas algumas espécies de uvas. São aquelas que são únicas e melhor traduzem o espírito da região, como as uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e merlot para os vinhos tintos; além do chardonnay e riesling itálico para os brancos." Com essa nova credencial, o Vale dos Vinhedos espera, no mínimo, duplicar suas exportações, principalmente de vinhos merlot.