Desligamentos crescem após seis meses de registro
O volume de demissões no Brasil costuma aumentar quando o trabalhador completa seis meses de casa, período em que, por lei, passa a ter direito ao seguro desemprego. Estudo do economista Gustavo Gonzaga, da PUC do Rio de Janeiro, com base nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego, revela que a média de demissões chega a aumentar 75% entre os que tinham até cinco meses de casa e os que completavam seis meses. Isso ajuda a explicar porque 40% dos empregados não completam um ano de empresa no país. Segundo o estudo, em geral o trabalhador espera receber todas as parcelas do seguro antes de voltar a procurar trabalho.
Estimativa do ministério aponta que uma redução de 10% na rotatividade por demissões poderia gerar uma economia de R$ 3,5 bilhões por ano nos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) em gastos com o seguro desemprego. Hoje, esses gastos ultrapassam os R$ 30 bilhões.
Em 2013, o governo federal aumentou as exigências para conceder o benefício. O trabalhador que solicita o seguro pela segunda vez em menos de dez anos é automaticamente matriculado em um curso de qualificação profissional.
Depois de bater recorde, o porcentual de trabalhadores que pede para sair da empresa por não estar satisfeito ou por ter encontrado uma oportunidade melhor vem diminuindo. Pesquisa da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), que será divulgada em setembro, revela uma queda de 16,3% para 14,8% no índice de demissão voluntária no Paraná entre 2012 e 2013. Segundo o estudo da ABRH, que ouviu 209 empresas, a rotatividade geral que inclui o movimento de admissões e demissões durante um ano ficou em 41,4% em 2013, porcentual muito próximo do registrado no ano anterior, mas abaixo do recorde de 2011, de 49,1%.
INFOGRÁFICO: Veja sobre a rotatividade de pessoas no mercado de trabalho
Tradicionalmente, quando a economia cresce, as empresas tendem a demitir menos. Os empregados, por sua vez, trocam mais facilmente de emprego porque a oferta de vagas é maior. Já quando a economia está mais fraca, a tendência é que o funcionário tenha menos confiança em pedir demissão e as companhias tenham menos capacidade financeira para apresentar ofertas a fim de atrair empregados de outras empresas. Com isso, a rotatividade voluntária cai. "Essa mudança que estamos vendo pode ser reflexo de um mercado de trabalho menos aquecido", diz Dórian Bachmann, sócio e diretor da Bachmann Associados, que elaborou o levantamento para a ABRH.
Ritmo lento
Embora a taxa de desemprego ainda esteja baixa em torno de 5% , o ritmo de geração de novas vagas de trabalho vem caindo. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, o Brasil criou 632.244 novos postos de trabalho até julho 30,3% a menos do que nos sete primeiros meses de 2013 (907,2 mil). Foi o pior saldo desde 2009. O porcentual de demissões voluntárias sobre o total de desligamentos caiu em todo o país. Em julho deste ano estava em 27,4%, contra 29% no ano anterior e 30% em 2012.
Na média, a rotatividade perdeu fôlego pela combinação de um cenário pior de emprego e pelo aumento de políticas de retenção por parte das empresas, diz a professora da escola de negócios da PUC-PR Daniella Forster. Segundo ela, as empresas passaram, nos últimos anos, a oferecer planos de carreira e maior mobilidade dos funcionários dentro das próprias corporações.
Com a economia mais fraca, também houve redução do número de empresas dispostas a elevar os salários dos empregados. Para Márcia Cassitas Hino, professora de gestão de conhecimento e plano de negócios do ISAE/FGV, a política salarial é importante, mas não é o único fator que determina a permanência do profissional. "A perspectiva de crescimento da carreira é importante. Além disso, as empresas que viram seus funcionários migrarem para a concorrência nos últimos anos se estruturaram mais para segurar seus talentos", diz.
Parâmetro
Porcentual aceitável de pedidos de demissão varia de 10% a 15%
Mesmo com a queda recente, a rotatividade no emprego se mantém em nível elevado. O índice de troca de empregados no Brasil é o dobro de países como Estados Unidos e Reino Unido. Um porcentual considerado saudável varia de 10% a 15%. Acima desses patamares, a rotatividade implica mais gastos com treinamento e capacitação para as empresas. "Em média, treinar um novo funcionário significa um investimento equivalente a uma vez e meia o salário anual do empregado", acrescenta Dórian Bachmann, sócio e diretor da Bachmann Associados, consultoria especializada no setor.
Os setores de alimentos e bebidas e do comércio varejista apresentaram as maiores taxas de rotatividade 68% e 61%, respectivamente, no ano passado. Setores que atraem o público que está em busca do primeiro emprego, como supermercados, lojas e restaurantes, em geral são os campeões de rotatividade. Quando ganham experiência, esses funcionários buscam rapidamente outras oportunidades.
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