A perda de ritmo da atividade industrial nos últimos meses acentuou os reflexos negativos sobre o mercado do trabalho do setor. Os dados do emprego na indústria de novembro, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram queda de 0,6% no número de ocupados na comparação com outubro e de 0,9% em relação a novembro de 2004. No Paraná a retração foi de 3,3% ante o mesmo mês do ano passado.
O quadro nacional é de estagnação, segundo a economista Fernanda Vilhena, da Coordenação de Indústria do instituto. Para ela, a pesquisa de emprego pode estar refletindo, com a defasagem habitual do mercado de trabalho em relação à produção, a redução no ritmo da atividade industrial apurada no terceiro trimestre.
Segundo alertam os economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), em documento sobre a pesquisa do IBGE, "um desempenho contido, para não dizer estagnado, do emprego industrial nos últimos meses sugere que os impactos dos processos de redução das vendas industriais e de estancamento da evolução da produção da indústria já se traduzem em menor ritmo de contratações".
Fernanda observa que a estreita ligação entre o ritmo de atividade e o emprego é comprovada pelos resultados do segmento de calçados e artigos de couro, que apresentou queda de 12,8% na ocupação ante novembro de 2004 e vem tendo fraco desempenho de produção por causa dos problemas enfrentados com o câmbio. O dólar baixo não apenas tem afetado as exportações desse setor como tem aumentado a concorrência de produtos importados no mercado interno.
Fenômeno parecido ocorre com o setor madeireiro do Paraná. Com exportações menos rentáveis, muitas empresas decidiram reduzir ou parar a produção à espera de uma virada na cotação do dólar. O efeito para os trabalhadores foi uma redução de 23% no número de pessoas contratadas por essa indústria em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2004.
Renda
Na indústria em geral, o fraco desempenho da produção afetou também o rendimento dos trabalhadores. A folha de pagamento da indústria registrou queda de 0,8% em novembro ante outubro, terceiro resultado negativo nessa base de comparação. Fernanda considera que há de fato uma desaceleração no nível salarial, já que em três meses (setembro, outubro e novembro) a queda acumulada é de 3,7%. "É natural essa perda em momento de esfriamento das contratações", disse.
Apesar da perda de fôlego da indústria, o indicador de horas extras pagas mostra que a tendência de retração no emprego pode ser passageira. O índice cresceu 1,3% ante outubro. As horas extras costumam anteceder as contratações, já que os empresários preferem aumentar as horas trabalhadas pelos funcionários já contratados antes da decisão de novas admissões.