Investimento
O resultado da indústria em 2013 seria pior não fosse a retomada da produção dos bens destinados ao investimento. Eles compensaram a perda de 2012 e foram responsáveis por quase toda a expansão do setor fabril no ano passado. Os chamados bens de capital cresceram 13,3% em 2013, após uma queda de 11,8% em 2012. A categoria agrupa máquinas e equipamentos usados nas linhas de produção de artigos de uso das famílias e empresas, além de caminhões, máquinas agrícolas, equipamentos para geração de energia e construção, entre outros.
Nem os incentivos do governo nem o dólar mais forte foram capazes de salvar a indústria brasileira de um resultado mediano em 2013. A produção decepcionou em dezembro, com tombo de 3,5% ante novembro, fazendo a indústria fechar o ano com crescimento de apenas 1,2%, informou ontem o IBGE. O resultado ficou longe de recuperar a perda de 2,5% acumulada em 2012.
Na passagem de novembro para dezembro, a indústria registrou o pior resultado em cinco anos. Houve queda generalizada, com taxas negativas em 22 dos 27 ramos investigados. O mau desempenho indica que a produção pode enfrentar mais um ano de crescimento moderado, previu Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados. A consultoria reduziu a sua expectativa de expansão para 2014, de 2,2% para 1,8%.
"Em 2013, houve recuperação na produção de caminhões, e o resto ficou elas por elas. A gente vai ter mais um ano de crescimento mediano. Esperamos algum alento por conta do câmbio mais favorável", afirmou Thaís.
O professor Antônio Corrêa de Lacerda, do Departamento de Economia da PUC-SP, também espera um alento por causa do câmbio, permitindo um avanço de 2% a 2,5% na produção neste ano. "A competitividade ainda é ruim e, relativamente aos nossos competidores, o câmbio não mudou tanto. Mas, de qualquer forma, há uma melhora", afirmou.
No entanto, as turbulências na Argentina, principal destino dos manufaturados brasileiros, podem levar a nova redução na estimativa de crescimento. "É possível que a gente tenha alguma surpresa em 2014 sim", disse Thaís, da Rosenberg.
Em dezembro, as paralisações de linhas de produção para férias coletivas puxaram o resultado negativo. Segundo o IBGE, 1,3 mil empresas participantes da pesquisa usaram como justificativas as férias coletivas para a redução na produção em dezembro em 2010, haviam sido apenas 500, informou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
As férias coletivas afetaram especialmente o desempenho do setor de veículos, com retração de 17,5% na produção de automóveis e caminhões em dezembro ante novembro. Por outro lado, a atividade foi a principal responsável por manter a produção nacional em território positivo em 2013, em especial por causa da recuperação da produção de caminhões ajudaram no crescimento total da indústria no ano.
Governo tem pouco espaço para novos incentivos ao setor
Vai ser uma tarefa difícil o governo conseguir espaço para promover novos incentivos pontuais à indústria em 2014. A avaliação é do economista Rodrigo Nishida, da LCA. "O cenário em 2014 está bem complicado. A política monetária está cada vez mais restritiva, estamos vendo um ciclo da elevação da Selic desde abril e os incentivos não virão por este canal", afirmou.
O economista disse ainda que mesmo a política fiscal, que tem sido mais expansionista desde o fim de 2012, com desonerações na folha de pagamento e redução do IPI para a indústria, agora "possui um espaço muito reduzido" para novas ações.
"O governo está sendo muito cobrado para melhorar a sua política fiscal, inclusive para retirar estímulos", reforçou, lembrando que, apesar de terem subido, as alíquotas do IPI continuam abaixo do nível original. "É um cenário complexo", disse.
Segundo Nishida, uma saída para ajudar a indústria seria continuar e reforçar a realização de concessões de projetos de infraestrutura. Além disso, explica, investir nessa área também traria reflexos diretos à competitividade da indústria.
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