Curitiba A aprovação da minirreforma eleitoral pela Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) do Senado Federal, na semana passada, irá provocar uma redução de faturamento em diversos setores produtivos. No Paraná, o corte dos custos das campanhas políticas vai afetar diretamente pelo menos três segmentos: brindes promocionais, pólo de bonés de Apucarana (Norte do estado) e produtoras de vídeo. Empresários prevêem uma queda brusca do faturamento, de até 60%, devido às alterações previstas para entrar em vigor já nas eleições do ano que vem.
Segundo o texto aprovado pela CCJ, está proibida a distribuição de brindes, como camisetas, bonés, canetas e chaveiros, durante a campanha eleitoral. O proprietário da empresa Rodosul Brindes, Murilo Gimenez Salustiano, reclama que o setor foi "bode expiatório" no meio da crise política. "Estão querendo simplificar a questão, como se acabar com os brindes significasse acabar com a corrupção", critica.
O empresário enviou uma carta de protesto aos senadores Jorge Borhaunsen (PFL-SC), autor do projeto, e José Jorge (PFL-PE), que fez o substitutivo do texto. De forma irônica, Salustiano "agradece" em nome das pequenas indústrias de brindes do Paraná, do pólo de bonés de Apucarana e do pólo de malhas do norte catarinense o "incentivo" dado às atividades do setor e defende que seria muito mais eficiente aumentar o rigor da fiscalização. "Não se pode sacrificar toda uma cadeia produtiva."
De acordo com o empresário, a campanha eleitoral é responsável pelo incremento de cerca de 30% de seu faturamento. Em 2004, Salustiano prestou serviços para os candidatos à prefeitura de Curitiba Ângelo Vanhoni, Beto Richa e Mauro Moraes, e trabalhou em diversas campanhas de veradores no Paraná, em Santa Catarina, em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Mato Grosso do Sul. "Nosso faturamento foi de cerca de R$ 200 mil na campanha e criamos 15 empregos diretos."
O diretor presidente do Grupo BB, Plínio Bevervanso, está preocupado com as conseqüências que essa legislação terá na sua empresa. "Nossa previsão era a fabricação de 20 milhões de brindes para a eleição do ano que vem", afirma. Bevervanso diz que o período eleitoral representa um salto de 25% em seu faturamento e que, em função do aumento, abre cerca de 50 vagas no período.
O comerciante Antônio Toccafondo, que trabalha com venda de camisetas promocionais, também se mostrou preocupado com a medida. "Essa época é sempre uma grande safra para o setor", diz. Toccafondo afirma que seu faturamento cresce cerca de 30% no período eleitoral. "É um dinheiro que fará muita falta."
A proprietária da Bem Brasil Bonés, Regiane Pacheco de Oliveira, afirma que o faturamento de sua empresa em ano eleitoral cresce, em média, 60%. "Na última campanha estadual, em 2002, fabricamos cerca de 100 mil bonés. É uma renda que não teremos mais", lamenta.
O vice-presidente técnico do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-PR), Cláudio Enrique Aspudillo, diz que as empresas que optaram por se especializar nesse segmento tinham consciência do risco que corriam. "Esse é um erro clássico de algumas empresas que acabam focando em apenas uma área. Agora a legislação forçará uma readaptação", diz. O executivo diz ser a favor das novas regras e defende que esse é um primeiro passo nas transformações necessárias no processo político. "Ainda há muito a ser feito, mas, sem dúvida, é um bom começo", diz.