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Indústria deixa portáteis de lado

Os eletroportáteis (ao fundo) não tiveram a mesma redução de IPI da linha branca, cuja produção é 90% nacional hoje | Arquivo/ Gazeta do Povo
Os eletroportáteis (ao fundo) não tiveram a mesma redução de IPI da linha branca, cuja produção é 90% nacional hoje (Foto: Arquivo/ Gazeta do Povo)

Sem condições de concorrer com os importados, a indústria nacional praticamente parou de fabricar os chamados aparelhos portáteis, como ferros elétricos, aparelhos de barbear, torradeiras, panelas elétricas e cafeteiras. Os empresários que ainda insistem em produzir esta categoria de itens registram quantidades mínimas se comparadas com o que vêm dos países asiáticos, especialmente da China. Um levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee) mostra que, de 2007 a 2010, as importações desses produtos cresceram 86%, passando de US$ 80,5 bilhões para US$ 150 bilhões.

Usando dados do IBGE e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a Abinee constatou que, em 2010, foram produzidos 448 mil aspiradores de pó no Brasil e importados 2,4 milhões de unidades. No mesmo ano, o país produziu 13 milhões de liquidificadores e espremedores de frutas e importou 73 milhões desses produtos. De aquecedores de ambiente, apenas 25 mil eram nacionais e um milhão importados. Secadores de cabelo (incluindo chapinhas) foram 3,7 milhões de produção local e 9 milhões de importados.

Esta situação perdura há anos, mas, se a alta contínua do dólar ante o real durar mais tempo, o consumidor brasileiro terá dificuldades para presentear, nas festas de fim de ano, parentes e amigos com aparelhos elétricos portáteis. Isso porque o encarecimento da moeda norte-americana levará à redução das importações e, assim, esses produtos ficarão mais caros. E ainda escassos, devido à baixa produção nacional.

"A indústria brasileira não aproveitou o crescimento da renda da população. Boa parte do esforço de inclusão de pessoas no mercado de consumo no Brasil viabilizou a produção de outros países", lamentou o presidente da Abinee, Humberto Barbato.

Ele explicou que, além do câmbio, os empresários brasileiros estão em desvantagem por uma série de razões, sendo as principais os entraves em infraestrutura e logística. Barbato garantiu que, havendo queda das importações e espaço para as empresas nacionais, a produção desses produtos no país começa imediatamente.

O mesmo avalia Ale­­xandre Cabral, diretor de Setores Intensivos em Capital e Tecnologia do MDIC. Ele admitiu que, na chamada família de eletroeletrônicos, os eletroportáteis não receberam a mesma prioridade do governo federal como os produtos de linha branca: máquinas de lavar, fogões e geladeira; e linha marrom, com destaque para televisões e outros aparelhos de áudio e vídeo. Graças aos incentivos dados a essas duas categorias de itens, 90% dos artigos vendidos no Brasil são fabricados por empresas nacionais. No caso dos portáteis, 30% são nacionais e 70% importados.

Aparelhos devem ficar 6% mais caros neste ano

Depois de uma escalada nos preços dos alimentos, a alta do dólar, aliada ao encarecimento do crédito, elevará também a inflação dos bens duráveis. Projeção da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostra que os preços de móveis e eletrodomésticos deverão subir 6% no fechamento deste ano, ante uma redução de 3,2% em 2012. A inflação dos artigos de uso pessoal e doméstico, que englobam os eletroeletrônicos, deverá ficar acima de 6% — no ano passado, foi de 2,5%.

No terceiro componente de bens duráveis da pesquisa, os artigos de informática e comunicação, os preços deverão ficar estáveis neste ano, após uma queda de 6,7% em 2012. Os números foram estimados com base na Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, que, na semana passada, mostrou que as vendas do varejo subiram 1,6% em abril, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foi o pior resultado na comparação anual em 10 anos.

O economista Fábio Bentes, da CNC, ressaltou que, com a desvalorização do real, esses bens são diretamente impactados, uma vez que ou são importados ou têm em sua composição peças produzidas no exterior. Ele destacou ainda que, além da alta do dólar, há um encarecimento do crédito no país. A seu ver, esse movimento pode até neutralizar os benefícios do programa Minha Casa Melhor, que oferece subsídio para a compra de móveis e eletrodomésticos a beneficiários do Minha Casa, Minha Vida.

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