O consumo de gás natural como fonte energética na indústria pode triplicar nos próximos quatro anos no Paraná, passando de 431 mil para cerca quase 1,6 milhão de metros cúbicos por dia. Isso porque duas grandes fabricantes de insumos para o agronegócio mostraram interesse no estado e, se fecharem contrato com a Companhia Paranaense de Gás (Compagas) estatal responsável pela distribuição do combustível , vão consumir juntas 1,14 milhão de metros cúbicos por dia.
Atualmente a Compagas tem um limite de 1,05 milhão de metros cúbicos disponíveis diariamente, para todos os tipos de clientes além da indústria, há os consumidores comerciais, residenciais e o gás natural veicular (GNV). Como as duas empresas do agronegócio condicionaram sua instalação no estado à garantia de fornecimento de gás natural, a Compagas teve de pedir combustível extra, no que foi atendida pela Petrobras.
O aporte vai atender apenas a esses dois empreendimentos, que ainda não fecharam contrato com a Compagas e nem começaram a ser construídos. No entanto, a Compagas acredita que a liberação da Petrobras pode abrir caminho para novas expansões, que também dependerão de novos volumes liberados pela estatal federal. A Petrobras, aliás, é uma das três acionistas da Compagas, com 24,5% de seu capital. As outras são a Mitsui, também com 24,5%, e a Companhia Paranaense de Energia (Copel), a controladora, com 51%.
Clientela
O acréscimo de 1,14 milhão de metros cúbicos vai abastecer a Vale Fertilizantes, em Araucária (Grande Curitiba), com consumo de 540 mil metros cúbicos por dia, e a fábrica de ureia do consórcio coordenado pela Cooperativa Nacional Agroindustrial (Coonagro), ainda sem local definido, que demandará 600 mil metros cúbicos. Com elas, o Paraná, que hoje ocupa a nona posição no consumo industrial de gás, pode passar à sexta posição.
O setor industrial consome gás do gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol). Segundo o professor do departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná Marcelo Risso Errera, a oferta no Paraná está "a contento". O problema, diz ele, é que a malha do gasoduto não privilegiou o estado.
"O traçado do Gasbol não foi tão generoso com o Paraná como foi com Santa Catarina e São Paulo", comenta. O gasoduto passa basicamente pela faixa leste do Paraná, restringindo o atendimento da Compagas a apenas nove municípios: Curitiba, Ponta Grossa, Palmeira, Balsa Nova, Araucária, Campo Largo, São José dos Pinhais, Colombo e Paranaguá.
Novos contratos
Atualmente, 108 empresas industriais do estado consomem gás natural. A Compagas não revela quantos clientes tem em potencial, mas afirma que pretende assinar neste ano contratos com algo entre 15 e 27 empresas. Segundo o gerente do segmento industrial da Compagas, Justino João Santos Pinho, serão necessários mais investimentos em logística. Até 2015, informa Pinho, a Compagas injetará R$ 136 milhões para ampliar a oferta do produto. Neste ano, serão R$ 34 milhões para a melhoria da infraestrutura.
Preço do combustível emperra negociações
Superados os reflexos da crise econômica mundial, em 2010 a indústria foi responsável por um aumento de 12,8% no consumo de gás natural no Paraná em relação a 2009, conforme dados da Compagas. O crescimento é semelhante à produção industrial paranaense que, de janeiro a novembro, aumentou 15,6%.
Com um cenário econômico favorável, o crescimento industrial vai exigir mais garantias das distribuidoras brasileiras e da própria Petrobras na hora de o investidor optar pelo gás natural em vez de outras fontes. O diretor-executivo da Coonagro, Daniel Fontes Dias, que está à frente das negociações para a instalação da fábrica de ureia no Paraná, informa que até o momento a Compagas já garantiu a logística de fornecimento e o volume de gás necessário; o problema, segundo ele, é que o preço não é atraente.
"O preço que ela está nos ofertando inviabiliza qualquer tipo de investimento: são US$ 10 por milhão de BTU (medida de poder calorífico), sendo que o preço pago pelas indústrias no mercado internacional é de US$ 3,5", expõe Dias. O preço do gás natural para a indústria segue planilhas diferentes das operadas para os demais clientes, como os do setor automotivo o gás natural veicular (GNV) custa, em média, R$ 1,49 o metro cúbico. Mas Dias acredita que, passadas as eleições de 2010 e definidas as novas equipes de governo, estadual e federal, a negociação possa ser reaberta. "Sou otimista e acho que vamos chegar num acordo", afirma.
No entanto, na avaliação do analista de energia térmica da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Rodolfo Zamian, o preço é importante na hora de fechar o negócio, mas não é o essencial. "O que se tem que levar em consideração é o tipo de contrato, qual é a garantia de fornecimento, se tem vantagens de logística também", aponta. Ele lembra que um dos motivos de insegurança do setor industrial é a dificuldade de garantia de contratos em longo prazo, com mais de dez anos, por exemplo. "Temos muitos contratos vencendo em 2012 e 2013 e até agora a Petrobras não sinalizou se irá manter o fornecimento ou não", acrescenta.
A assessoria de imprensa da Petrobras informou apenas que os preços às distribuidoras são definidos conforme a política de preços da Petrobras e que os valores pagos pelos consumidores finais dependem das tarifas praticadas pelas distribuidoras. O gerente do segmento industrial da Compagas, Justino João Santos Pinho, considera que os preços no estado são "bastante competitivos".