As medidas para restringir o crédito, anunciadas pelo governo federal no início do mês, devem derrubar pela metade o ritmo de crescimento da indústria paranaense em 2011. A expectativa da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) é de que as vendas do setor cresçam 4% ao longo do próximo ano em 2010, o índice deve fechar cerca de 8% acima do registrado em 2009. Antes mesmo do anúncio das medidas, a entidade já estimava uma freada no crescimento, para algo em torno de 5%. "Os gargalos que temos, principalmente de infraestrutura, tornam inviável prosseguir neste mesmo ritmo de crescimento", diz o coordenador do departamento econômico da Fiep, Maurílio Schmitt.
O economista apresentou ontem o resultado da Sondagem Industrial, pesquisa anual do setor feita em parceria com o Sebrae, e brincou com o projeto gráfico do material, cuja capa tem a cor roxa. "Em 2010 a edição era dourada. Este ano é roxa, a cor do sacrifício", disse. De acordo com o estudo, 86,4% dos industriais do estado têm expectativa favorável para 2011 este é o quarto maior índice desde o início de série histórica, em 1992. Schmitt lembra, no entanto, que a pesquisa foi realizada em outubro, ou seja, antes do anúncio das medidas do governo, que certamente diminuíram o otimismo do setor.
Parte desse esforço, segundo o economista, deve ser feita pelo próprio governo, para qualificar os gastos públicos. "Eles são extremamente elevados para as condições estruturais que temos", diz. O ajuste fiscal é tido pela entidade como um dos principais desafios para o novo governo. "A grande questão é se este ajuste será feito através de gastos mais racionais ou se será transferido para o povo, pelo aumento de impostos a solução mais cômoda", diz o presidente da Fiep, Rodrigo da Rocha Loures.
Menos força
Schmitt acredita, no entanto, que o impacto das medidas na indústria do Paraná não será tão grande quanto em outras regiões do país, pelas características estruturais do setor no estado. "Nossa indústria é muito centrada em bens de consumo correntes, com forte porcentual de participação da agroindústria. E, por enquanto, as ações do governo são mais específicas para a redução do ritmo de consumo dos bens duráveis", analisa. O economista Roberto Zürcher, também da Fiep, acredita, no entanto, que o governo deve anunciar em breve outras medidas para restrição do crédito em outros segmentos. "Estamos criando uma bolha de crédito, que começa a desinchar com essas medidas", diz.
De acordo com a sondagem, entre os otimistas, 38,7% dizem que vão fazer novos investimentos em 2011; 37,76% esperam um aumento nas vendas; e 23,48% falam em um aumento no nível de emprego. Os investimentos, segundo o estudo, serão destinados a modernização tecnológica, aumento da produtividade e melhoria de processos.