No fim de 2007, a fabricante de implementos rodoviários Metalesp contratava trabalhadores e se organizava para dar conta de uma extensa lista de encomendas, suficiente para manter a produção em nível máximo por nove meses. Pouco mais de um ano depois, seus diretores se desdobram para evitar a demissão de parte dos 150 funcionários da empresa. Afinal, de setembro para cá, a dificuldade dos clientes em obter crédito e a desaceleração econômica derrubaram em 40% a demanda pelos silos rodoviários e reboques porta-contêineres que a companhia produz em Rio Branco do Sul, na Grande Curitiba.
A persistência em manter o quadro de pessoal é, por enquanto, uma das poucas diferenças que separam a Metalesp da maioria de suas colegas da indústria metal-mecânica paranaense, formada por mais de 3 mil empresas. Quase todas começam o ano com estoques em alta, pedidos em baixa e a sombria perspectiva de reduzir o nível de produção em 2009, após dois anos de vigorosa expansão.
De acordo com uma sondagem feita em janeiro pelo Sindimetal, representante do segmento, neste primeiro bimestre as vendas devem ficar 35% abaixo do patamar de setembro, último mês "livre" de efeitos da crise internacional. A expectativa indica um resultado ainda pior que o visto no último trimestre quando as vendas caíram 23% na comparação com o período "pré-crise" e, se concretizada, será preciso crescer muito para compensar o baque. "Temos a expectativa de, no segundo semestre, retornar aos níveis de produção do início de 2007, quando não havia 'boom', mas, em compensação, tínhamos crescimento gradual e constante", diz Roberto Karam, presidente do Sindimetal.
Embora toda a indústria paranaense seja afetada de alguma forma pela crise, a situação do segmento metal-mecânico causa preocupação extra porque suas empresas, concentradas na produção de mercadorias de alto valor agregado como veículos, autopeças, máquinas e equipamentos , estão entre as principais responsáveis pela expansão industrial do estado na última década. Com a brusca mudança de cenário, as mesmas fábricas podem contribuir para a primeira retração da indústria em três anos.
Levantamento feito pela Gazeta do Povo a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, no Paraná, a fabricação de carros, caminhões e seus diversos componentes cresceu 161% entre 1998 e 2008, considerando-se o acumulado de janeiro a novembro de cada ano. Apenas nos últimos dois anos, essa categoria avançou 68%, embalada pela pujança do mercado automotivo. Por sua vez, a produção de máquinas e equipamentos eclética divisão que inclui, entre outros, colheitadeiras, tratores, máquinas industriais, refrigeradores e ventiladores saltou 166% em dez anos. Nenhum outro segmento da indústria estadual, que registrou expansão média de 35% no período, avançou tanto.
Juntas, as indústrias de máquinas e veículos respondem por 18% da produção industrial paranaense, segundo os dados mais recentes do IBGE, de 2006. Embora tenham peso menor que os setores de alimentos e bebidas (22%) e refino de petróleo e álcool (21%), sua responsabilidade é tal que, na última vez em que ambas se retraíram, em 2006, nem o avanço da fabricação de combustíveis, bebidas e alimentos foi capaz de impedir a queda de produção da indústria geral.
"Junto com a agroindústria, os segmentos automotivo e de máquinas foram muito favorecidos pela dinâmica recente de crescimento da economia brasileira e internacional. E agora eles veem sinais claros de desaquecimento, ou mesmo de choque, como é o caso das montadoras", avalia o economista Marcio Cruz, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Não bastassem todas as consequências da crise global, a indústria metal-mecânica ainda enfrenta um razoável obstáculo "local": a estiagem prolongada, que deve reduzir a produção de grãos do estado em pelo menos 30%. "No mesmo momento em que as perspectivas de safra começaram a declinar, as vendas de maquinário agrícola passaram a cair", aponta o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).