Com pior expectativa em dez anos, empresas "jogam pelo empate"
A mais recente sondagem anual da Fiep revelou que o ânimo da indústria paranaense é o mais baixo em uma década: apenas 62% dos 536 empresários consultados disseram ter expectativas favoráveis para este ano. Trata-se de uma inversão radical em relação à sondagem referente a 2008, que havia apontado 88% de perspectivas otimistas, o nível mais alto da série histórica, iniciada em 1996. A previsão para 2009 também é pior que a relativa a 2006, última vez em que a produção industrial do estado se retraiu no início daquele ano, 71% dos empresários estavam otimistas.
"Todos os setores, ou quase todos, vão reduzir a velocidade de crescimento que exibiram nos últimos meses. Mas, ainda que menos, o país ainda deve crescer neste ano, e isso mantém em pé a possibilidade de que a indústria do Paraná cresça", pondera Roberto Zürcher, economista da Fiep.
De todo modo, a esperança de que a produção apenas "empate" com a do ano passado já passa a ser considerada positiva por vários empresários. É o caso de João Manuel de Carvalho Cardoso, coordenador de operações da Metalesp. "Vamos lançar um reboque tanque, para transporte de líquidos, para tentar compensar a queda das outras linhas. Mas é uma tentativa. Se conseguirmos repetir a produção do ano passado, de cerca de 500 unidades, será ótimo."
Plástico
O presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico (Simpep), Dirceu Galléas, admite que, se não houver uma forte mudança de cenário nos próximos meses, o segmento tende a produzir menos no ano. A indústria do plástico, que reúne 600 empresas e cerca de 18 mil trabalhadores no Paraná, responde por cerca de 3% da produção industrial do estado, segundo dados de 2006 do IBGE.
Após manter-se por quase uma década abaixo do nível de produção verificado em 1998, o segmento recuperou terreno ao crescer quase 13% no ano passado, mas agora se vê ameaçado por uma nova baixa. "O plástico é muito conectado ao desempenho da economia. Então, por enquanto o viés é de baixa", diz Galléas.
Fornecedora da construção civil, a indústria paranaense de minerais não-metálicos foi a quinta que mais cresceu nos últimos dez anos. Concentrada na região metropolitana de Curitiba que reúne diversas fabricantes de cimento, cal, concreto e telhas de fibrocimento , elevou em 37% seu nível de produção entre 1998 e 2008. Apenas no ano passado, a expansão foi de 25%.
Mas, embora as expectativas para o desempenho da construção civil continuem relativamente positivas, segmentos específicos, como a indústria de cal, enfrentam o risco de não avançar neste ano. "Metade de nossa produção vai para a construção civil, e metade para indústrias que usam a cal em seus processos", conta Alzemir Gulin, presidente da Associação dos Produtores de Derivados do Calcário (APDC). (FJ)
No fim de 2007, a fabricante de implementos rodoviários Metalesp contratava trabalhadores e se organizava para dar conta de uma extensa lista de encomendas, suficiente para manter a produção em nível máximo por nove meses. Pouco mais de um ano depois, seus diretores se desdobram para evitar a demissão de parte dos 150 funcionários da empresa. Afinal, de setembro para cá, a dificuldade dos clientes em obter crédito e a desaceleração econômica derrubaram em 40% a demanda pelos silos rodoviários e reboques porta-contêineres que a companhia produz em Rio Branco do Sul, na Grande Curitiba.
A persistência em manter o quadro de pessoal é, por enquanto, uma das poucas diferenças que separam a Metalesp da maioria de suas colegas da indústria metal-mecânica paranaense, formada por mais de 3 mil empresas. Quase todas começam o ano com estoques em alta, pedidos em baixa e a sombria perspectiva de reduzir o nível de produção em 2009, após dois anos de vigorosa expansão.
De acordo com uma sondagem feita em janeiro pelo Sindimetal, representante do segmento, neste primeiro bimestre as vendas devem ficar 35% abaixo do patamar de setembro, último mês "livre" de efeitos da crise internacional. A expectativa indica um resultado ainda pior que o visto no último trimestre quando as vendas caíram 23% na comparação com o período "pré-crise" e, se concretizada, será preciso crescer muito para compensar o baque. "Temos a expectativa de, no segundo semestre, retornar aos níveis de produção do início de 2007, quando não havia 'boom', mas, em compensação, tínhamos crescimento gradual e constante", diz Roberto Karam, presidente do Sindimetal.
Embora toda a indústria paranaense seja afetada de alguma forma pela crise, a situação do segmento metal-mecânico causa preocupação extra porque suas empresas, concentradas na produção de mercadorias de alto valor agregado como veículos, autopeças, máquinas e equipamentos , estão entre as principais responsáveis pela expansão industrial do estado na última década. Com a brusca mudança de cenário, as mesmas fábricas podem contribuir para a primeira retração da indústria em três anos.
Levantamento feito pela Gazeta do Povo a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que, no Paraná, a fabricação de carros, caminhões e seus diversos componentes cresceu 161% entre 1998 e 2008, considerando-se o acumulado de janeiro a novembro de cada ano. Apenas nos últimos dois anos, essa categoria avançou 68%, embalada pela pujança do mercado automotivo. Por sua vez, a produção de máquinas e equipamentos eclética divisão que inclui, entre outros, colheitadeiras, tratores, máquinas industriais, refrigeradores e ventiladores saltou 166% em dez anos. Nenhum outro segmento da indústria estadual, que registrou expansão média de 35% no período, avançou tanto.
Juntas, as indústrias de máquinas e veículos respondem por 18% da produção industrial paranaense, segundo os dados mais recentes do IBGE, de 2006. Embora tenham peso menor que os setores de alimentos e bebidas (22%) e refino de petróleo e álcool (21%), sua responsabilidade é tal que, na última vez em que ambas se retraíram, em 2006, nem o avanço da fabricação de combustíveis, bebidas e alimentos foi capaz de impedir a queda de produção da indústria geral.
"Junto com a agroindústria, os segmentos automotivo e de máquinas foram muito favorecidos pela dinâmica recente de crescimento da economia brasileira e internacional. E agora eles veem sinais claros de desaquecimento, ou mesmo de choque, como é o caso das montadoras", avalia o economista Marcio Cruz, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Não bastassem todas as consequências da crise global, a indústria metal-mecânica ainda enfrenta um razoável obstáculo "local": a estiagem prolongada, que deve reduzir a produção de grãos do estado em pelo menos 30%. "No mesmo momento em que as perspectivas de safra começaram a declinar, as vendas de maquinário agrícola passaram a cair", aponta o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
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