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Contaminação

Indústria do PR aponta redução nas vendas e adia projetos

A crise financeira internacional contaminou o Paraná. Empresários já reclamavam do aumento dos juros e da escassez de crédito de curto prazo, mas agora aparecem evidências de desaceleração das vendas industriais, e surgem os primeiros anúncios de redução ou suspensão de investimentos previstos para os próximos meses. Representantes da indústria enumeram reflexos negativos da turbulência internacional, que incluem queda no número de encomendas, dificuldade em importar matérias-primas e revisão de planos de contratação de novos funcionários ou ampliação das instalações.

"Nossos clientes, entre os quais estão a indústria automobilística e de autopeças, começaram a cancelar pedidos, pois estão reduzindo seu ritmo de produção. Com isso, nossas vendas já estão 25% mais baixas do que estavam no início do ano. Se o cenário não mudar, em dezembro a queda vai chegar a 35%", diz Roberto Karam, presidente do Sindimetal, que representa cerca de 180 empresas do segmento metal-mecânico. O empresário cita um preocupante impacto da crise sobre o endividamento das companhias: "Quando o dólar estava lá embaixo, muitas empresas aproveitaram para importar maquinário, e agora têm dívidas em moeda americana, que ficaram substancialmente mais altas."

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico, Dirceu Galléas, as 750 empresas do segmento estão "sentindo violentamente a crise", pois dependem de matéria-prima importada. "O dólar subiu com força, mas a nafta, principal insumo da indústria do plástico, não acompanhou a queda do petróleo. O resultado é que os custos vão subir. E, no momento, todas as compras de matéria-prima importada estão paradas", diz Galléas. "Na outra ponta, vemos uma inibição muito grande de nossos clientes. Eles estão segurando as compras e usando ao máximo os estoques que têm."

A indústria de produtos químicos, farmacêuticos e cosméticos, outro segmento que depende de insumos comprados no exterior, também prevê aumentos severos nos custos. "Não só pela alta do dólar, mas pela total indefinição sobre o futuro cenário econômico, algumas empresas cancelaram contratações de funcionários. Vagas abertas foram suspensas. Empresas que tinham planos de ampliar o parque industrial estão brecando esses projetos, revendo seu planejamento", revela Marcelo Ivan Melek, presidente do Sinqfar, que representa 480 companhias do segmento.

Contaminação

As queixas dos empresários coincidem com o cenário descrito ontem pelo economista Fábio Scatolin, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em debate realizado pela Fiep, a federação das indústrias. "Há alguns meses, economistas do mundo todo discutiam se as economias emergentes poderiam continuar crescendo apesar da desaceleração dos países centrais. Mas o fato é que a contaminação chegou. Não há descolamento. Não se discute mais essa hipótese", disse o economista.

Scatolin prevê que o Paraná sofrerá forte impacto por conta do crédito mais caro e escasso, da alta do dólar e da queda dos preços de commodities – produtos que têm participação relevante nas receitas do estado. "O problema é que a crise pegou no contrapé boa parte do setor produtivo, que estava bem no meio de um processo de expansão da capacidade instalada."

Presente ao encontro, o economista Adílson Volpi, também da UFPR, sugeriu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) alongue os prazos de pagamento de empréstimos já concedidos. "É uma maneira de suavizar o impacto da crise sobre o investimento que está em andamento. Por mais que, com a crise, o retorno do investimento seja mais lento, o prazo mais longo dará ao empresário uma perspectiva de estar bem na saída da crise."

Rodrigo da Rocha Loures, presidente da Fiep, acrescentou que, para minimizar a "contaminação" do Brasil, o governo deve ampliar o prazo de recolhimento de impostos e desonerar investimentos, ao passo que o Banco Central precisa interromper o processo de alta dos juros. "O governo deve assegurar que não haja uma desestruturação do setor produtivo. Pode até haver redução de ritmo, desde que não implique quebra do processo de expansão."

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