O câmbio desfavorável, a quebra da safra agrícola e o ritmo mais lento de geração de empregos vão fazer a indústria do Paraná crescer menos neste ano. A projeção do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) é que as vendas industriais avancem 3,5%, contra 5,8% no ano passado. Descontados os anos em que a indústria encolheu, esse será o menor crescimento do faturamento desde 2001 (1,9%).
A indústria tem sido o setor mais afetado pela retração da economia e pelo câmbio desfavorável, que vem provocando uma enxurrada de entrada de importados no país. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que os produtos importados já representam 20% do que é vendido hoje no país.
Segundo Roberto Zurcher, economista da Fiep, o resultado mais fraco do agronegócio deve impactar no desempenho da indústria do Paraná em 2012, já que a economia do estado ainda depende fortemente do resultado que vem do campo. A quebra da safra também reduz a produção de alimentos e bebidas, segmento que responde por 43% das vendas industriais no Paraná.
Os primeiros sinais de que 2012 não será como o ano passado vieram no início do ano, quando as vendas despencaram 21,7% em relação a dezembro e 16% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Para Julio Suzuki, diretor de pesquisas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), o aumento de 7% da produção industrial do estado no ano passado, medido pelo IBGE, foi um ponto fora da curva, puxado principalmente pela maior agressividade das montadoras de automóveis no estado. Em janeiro, a produção industrial no estado ficou 11,5% abaixo da de dezembro e 4,8% acima da de janeiro de 2011.
O câmbio desfavorável permanece, de acordo com Suzuki, ao longo desse ano, como o um dos principais problemas da indústria. "O imbróglio é que o atual arranjo macroeconômico privilegia o consumo interno e não as exportações. Mexer no câmbio, embora facilite as vendas externas das indústrias, também significaria um aumento dos custos dos produtos no mercado interno para a população", diz.
Contraponto
Apesar disso, ao longo do ano entrarão em cena alguns fatores de estímulo que poderão melhorar o desempenho industrial, como a redução da taxa básica de juros e a elevação do salário mínimo, que ampliarão o consumo de setores empregadores e de baixa penetração das importações, como alimentos e bebidas. Além disso, setores beneficiados com a redução do IPI, como eletrodomésticos de linha branca e móveis, devem ir bem, segundo o presidente da Fiep, Edson Campagnolo. "Outro fator a ser considerado é a instalação de novas indústrias no estado", acrescenta.
Apesar do crescimento menor, o desempenho do Paraná deve ser superior à média nacional. A CNI projetava, no fim do ano passado, um avanço de 2,3% para a indústria em 2012. A nova projeção sai ainda este mês. A explicação, segundo Zurcher, está na estrutura industrial do estado que é fortemente concentrada em alimentos e bebidas, automóveis e combustíveis e voltada para o mercado interno. Isso fez com que, nos últimos anos, o desempenho da indústria no estado descolasse do nacional.
Atividade perde cada vez mais fatia no PIB
Um em cada cinco produtos industriais vendidos no Brasil em 2011 foi fabricado em outro país, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os produtos importados responderam por 19,8% do consumo no ano passado, porcentual recorde, acima dos 17,8% de 2010 e bem superior aos 15,1% registrados em 1996, início da série histórica.
A própria indústria nacional contribuiu para o aumentou no consumo de importados: 21,7% dos insumos utilizados pelo setor vieram de outros países (2,6% a mais que em 2010).
Não há números regionalizados sobre a participação de importados, mas no Paraná cinco grupos de produtos fecharam o ano passado com déficit na balança comercial têxteis, material elétrico e eletrônicos, material de transportes, mecânica, petróleo e derivados e produtos químicos.
São segmentos que vêm registrando forte concorrência de produtos acabados (vestuário) e forte compra de insumos importados (indústrias química, mecânica e eletroeletrônica). "Algumas empresas começam a reduzir a produção e se transformar em simples revendedoras de produtos importados", afirma Carlos Walter Martins Pedro, presidente do Sindimetal na região de Maringá e dono da ZM Bombas, fabricante de bombas hidráulicas e lavadoras de alta pressão. A participação dos insumos importados supera 30% hoje nesse setor.
Como resultado desse quadro, a indústria de transformação do Paraná vem perdendo espaço: em 2004, ela respondia por 20,91% do PIB estadual, hoje está em 18,8%, segundo o Ipardes.