
Indícios
Trimestre fraco acendeu a luz amarela do setor no estado
A demanda mais fraca nesse início de ano surpreendeu as indústrias. "Os lojistas estão repondo os estoques mais devagar e as encomendas estão mais lentas", diz Marcelo Surek, coordenador do conselho do vestuário do Paraná. Para ele, o setor, que emprega 100 mil pessoas no estado, já está sentindo a retração no consumo, pelo maior endividamento das famílias, além do peso da concorrência chinesa, que chega a representar 50% no mercado.
No setor químico, o primeiro trimestre também ficou aquém do esperado, segundo Marcelo Melek, presidente do Sindicato da Indústria Química e Farmacêutica do Paraná, que representa 480 empresas. "Como o setor é fornecedor para outras indústrias, somos afetados em cadeia pela desaceleração de outros segmentos. O momento é de cautela", diz. Segundo ele, as empresas estão segurando investimentos mais pesados e aguardando o comportamento dos próximos meses.
O ritmo de encomendas na Brafer Construções Metálicas, com sede em Araucária, na região de Curitiba, está em média 10% menor do que o esperado. Segundo o vice-presidente da empresa, Luiz Carlos Caggiano, várias obras para a Copa do Mundo, como as dos estádios de Manaus, Fortaleza, Salvador e de Porto Alegre, estão usando estruturas metálicas importadas da China. Isso ocorre justamente em um momento em que a empresa, que emprega 1,1 mil pessoas, amplia seus investimentos. Depois de anunciar que vai dobrar a produção da fábrica do Rio de Janeiro, construir uma unidade em Juiz de Fora (MG) e mais uma linha de galvanização a fogo em Araucária que somam R$ 152 milhões em recursos a Brafer pretende investir mais R$ 100 milhões em uma fábrica de estruturas para torres de linhas de transmissão no Rio. "Apostamos no crescimento nos próximos anos, estamos investindo, mas corremos o risco de não ter para quem vender em cinco anos" diz ele.
Para concorrer, a saída de algumas empresas tem sido aumentar a produtividade ao invés de ampliar a capacidade de produção. Dono da ZM Bombas, fabricante de bombas hidraulicas e lavadoras de alta pressão em Maringá, o empresário Carlos Walter Martins Pedro diz que este ano vai investir 18% do seu faturamento (cerca de R$ 5 milhões) nesse sentido. "Geralmente investíamos entre 8% e 10% do nosso faturamento, mas precisamos agregar tecnologia para competirmos. A nossa prioridade agora é essa."
Expectativa
Setor terá mais desoneração e importados serão taxados
Depois de prorrogar a redução do IPI para eletrodomésticos de linha branca e estender o benefício para o setor móveis e revestimentos, o governo deve lançar amanhã um pacote de medidas de estímulo à indústria, que deve incluir ampliação da desoneração na folha de pagamento para nove setores e redução de juros para financiamentos e criação de uma Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) adicional para as importações de alguns produtos.
O câmbio desfavorável, a quebra da safra agrícola e o ritmo mais lento de geração de empregos vão fazer a indústria do Paraná crescer menos neste ano. A projeção do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) é que as vendas industriais avancem 3,5%, contra 5,8% no ano passado. Descontados os anos em que a indústria encolheu, esse será o menor crescimento do faturamento desde 2001 (1,9%).
A indústria tem sido o setor mais afetado pela retração da economia e pelo câmbio desfavorável, que vem provocando uma enxurrada de entrada de importados no país. Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que os produtos importados já representam 20% do que é vendido hoje no país.
Segundo Roberto Zurcher, economista da Fiep, o resultado mais fraco do agronegócio deve impactar no desempenho da indústria do Paraná em 2012, já que a economia do estado ainda depende fortemente do resultado que vem do campo. A quebra da safra também reduz a produção de alimentos e bebidas, segmento que responde por 43% das vendas industriais no Paraná.
Os primeiros sinais de que 2012 não será como o ano passado vieram no início do ano, quando as vendas despencaram 21,7% em relação a dezembro e 16% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Para Julio Suzuki, diretor de pesquisas do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), o aumento de 7% da produção industrial do estado no ano passado, medido pelo IBGE, foi um ponto fora da curva, puxado principalmente pela maior agressividade das montadoras de automóveis no estado. Em janeiro, a produção industrial no estado ficou 11,5% abaixo da de dezembro e 4,8% acima da de janeiro de 2011.
O câmbio desfavorável permanece, de acordo com Suzuki, ao longo desse ano, como o um dos principais problemas da indústria. "O imbróglio é que o atual arranjo macroeconômico privilegia o consumo interno e não as exportações. Mexer no câmbio, embora facilite as vendas externas das indústrias, também significaria um aumento dos custos dos produtos no mercado interno para a população", diz.
Contraponto
Apesar disso, ao longo do ano entrarão em cena alguns fatores de estímulo que poderão melhorar o desempenho industrial, como a redução da taxa básica de juros e a elevação do salário mínimo, que ampliarão o consumo de setores empregadores e de baixa penetração das importações, como alimentos e bebidas. Além disso, setores beneficiados com a redução do IPI, como eletrodomésticos de linha branca e móveis, devem ir bem, segundo o presidente da Fiep, Edson Campagnolo. "Outro fator a ser considerado é a instalação de novas indústrias no estado", acrescenta.
Apesar do crescimento menor, o desempenho do Paraná deve ser superior à média nacional. A CNI projetava, no fim do ano passado, um avanço de 2,3% para a indústria em 2012. A nova projeção sai ainda este mês. A explicação, segundo Zurcher, está na estrutura industrial do estado que é fortemente concentrada em alimentos e bebidas, automóveis e combustíveis e voltada para o mercado interno. Isso fez com que, nos últimos anos, o desempenho da indústria no estado descolasse do nacional.
Atividade perde cada vez mais fatia no PIB
Um em cada cinco produtos industriais vendidos no Brasil em 2011 foi fabricado em outro país, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os produtos importados responderam por 19,8% do consumo no ano passado, porcentual recorde, acima dos 17,8% de 2010 e bem superior aos 15,1% registrados em 1996, início da série histórica.
A própria indústria nacional contribuiu para o aumentou no consumo de importados: 21,7% dos insumos utilizados pelo setor vieram de outros países (2,6% a mais que em 2010).
Não há números regionalizados sobre a participação de importados, mas no Paraná cinco grupos de produtos fecharam o ano passado com déficit na balança comercial têxteis, material elétrico e eletrônicos, material de transportes, mecânica, petróleo e derivados e produtos químicos.
São segmentos que vêm registrando forte concorrência de produtos acabados (vestuário) e forte compra de insumos importados (indústrias química, mecânica e eletroeletrônica). "Algumas empresas começam a reduzir a produção e se transformar em simples revendedoras de produtos importados", afirma Carlos Walter Martins Pedro, presidente do Sindimetal na região de Maringá e dono da ZM Bombas, fabricante de bombas hidráulicas e lavadoras de alta pressão. A participação dos insumos importados supera 30% hoje nesse setor.
Como resultado desse quadro, a indústria de transformação do Paraná vem perdendo espaço: em 2004, ela respondia por 20,91% do PIB estadual, hoje está em 18,8%, segundo o Ipardes.
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