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Diferentemente da indústria, o comércio ainda está vendendo mais que no ano passado. Mas, já endividadas, as famílias têm diminuído o apetite pelas compras | Fábio Rodrigues Possebom/ABr
Diferentemente da indústria, o comércio ainda está vendendo mais que no ano passado. Mas, já endividadas, as famílias têm diminuído o apetite pelas compras| Foto: Fábio Rodrigues Possebom/ABr

Contas trimestrais

Dado do IBGE deve confirmar desaceleração

O freio na economia no primeiro trimestre deve ser confirmado pelos números oficiais do PIB, que serão divulgados pelo IBGE na próxima sexta-feira. O Índice de Atividade Econômica (IBC-BR), calculado pelo Banco Central (BC) e que é uma espécie de prévia do PIB, apontou uma queda de 0,35% da atividade econômica em março, a terceira consecutiva. Pelos cálculos do BC, o primeiro trimestre registrou avanço de apenas 0,15% sobre os três últimos meses de 2011, inferior ao de 0,19% ocorrido no quarto trimestre do ano passado.Para o economista Fabio Tadeu Araújo, professor da PUCPR, a tendência é de que sinais mais claros de recuperação sejam sentidos apenas no último trimestre do ano. Para ele, o pico da inadimplência – que voltou a subir em abril, para 7,6% – já ocorreu e agora a tendência é de que haja uma melhora, "mas a contagotas".O consumo, segundo os economistas, embora importante para garantir o crescimento da economia, não é a única alternativa. Os investimentos poderiam ter estímulos mais vigorosos – é o que a China faz. "No mesmo dia em que o Brasil anunciou um pacote para crédito, a China anunciou um plano para estimular investimentos em infraestrutura", lembra Armando Castelar, da FGV.

A economia brasileira parou. A queda da atividade econômica nos primeiros meses do ano acendeu a luz amarela sobre a real capacidade de o país retomar o crescimento até o fim de 2012 e de passar imune aos efeitos da crise na Europa. Para tentar aquecer a economia, o governo lançou mão, na última semana, das mesmas armas que usou na crise de 2008: cortou impostos e juros e deu uma injeção de crédito na veia do consumidor. O pacote, que promete ajuda principalmente ao setor automotivo, vai custar R$ 2,7 bilhões em renúncia fiscal. Mas entre os economistas é cada vez mais recorrente a análise de que apostar apenas no crédito não será suficiente para garantir crescimento acima de 3% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2012, além de ser perigoso em um momento de endividamento e inadimplência alta.

Em meio à piora do cenário econômico local e internacional, as projeções para este ano estão se deteriorando. Boa parte dos economistas prevê uma alta do PIB entre 2,5% e 2,7% – bem menos que a expectativa atual do governo, de 4%. As previsões dos analistas de mercado vêm caindo: os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central preveem, na média, uma expansão de 3,09%.

"Havia a expectativa de uma retomada mais lenta da economia brasileira, mas o primeiro trimestre mostrou que provavelmente teremos um ano pior do que se esperava", diz o economista Armando Castelar, coordenador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

A atividade econômica travou graças à combinação de vários fatores. Com medo do calote, os bancos restringiram o crédito, principalmente na venda de automóveis. A indústria, com dificuldade para competir de igual para igual com os importados, reduziu o ritmo da produção e as famílias, já endividadas, estão diminuindo o apetite pelas compras. Para completar, os investimentos estão em queda. "O primeiro trimestre já foi perdido. O Brasil precisará crescer 5% nos próximos trimestres para alcançar uma taxa de 2,5% no ano", diz Castelar.

Para tentar evitar um tombo maior, o governo lançou medidas de estímulo ao crédito, muito semelhantes às adotadas após o estouro da crise de 2008. Cortou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos automóveis e reduziu o depósito compulsório – dinheiro que os bancos têm de deixar depositado no Banco Central – para que as instituições voltem a emprestar nesse setor. Além disso, reduziu os juros para investimentos.

Porém, ao contrário do que ocorreu em 2008 e 2009, incentivar o crédito terá agora efeito limitado em reanimar a economia, segundo os economistas. As famílias estão mais endividadas que naquela época e os bancos, principalmente os privados, tendem a se manter conservadores na concessão de financiamentos, já que a inadimplência é a mais alta desde 2009.

Ao dar "açúcar para o diabético", o governo assume o risco e ver o endividamento e a inadimplência crescerem, segundo o economista Breno Lemos, professor da PUCPR. Em média, as dívidas já comprometem 45% da renda anual das famílias. Nos últimos meses, o calote aumentou mesmo em um cenário de renda e emprego em alta, o que mostra que o consumidor teve dificuldade em lidar bem com o crédito oferecido, segundo Lemos.

"Esse é um problema, porque a renda não está crescendo mais como crescia e a taxa de desemprego deve aumentar nos próximos meses", diz Luciano D´Agostini, economista do grupo de pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento.

Crise internacional chega mais perto

A piora do cenário na Europa nas últimas duas semanas e a falta de sinais mais claros sobre a retomada da economia dos Estados Unidos também começam a pressionar a economia brasileira, principalmente a partir do segundo trimestre. A desaceleração do crescimento da China, principal parceiro comercial do país, também é uma fonte de preocupação. Uma retração maior pode comprometer exportações e crédito para empresas brasileiras.

Os economistas alertam que a crise de agora é diferente daquela que estourou em 2008 por envolver um número maior de países. Naquela ocasião, apenas os Estados Unidos estavam em recessão. Não havia expectativa de crescimento menor para a China, grande compradora de commodities brasileiras, nem crise aguda na Europa, um mercado ainda importante para o Brasil. Além disso, o nível de endividamento do consumidor não era tão elevado como o atual.

Agora os EUA ainda resistem em confirmar sua retomada e as chances de a Grécia sair da zona do euro vêm crescendo. Apesar disso, os emergentes tendem a se sair melhor que os países desenvolvidos em 2012. O Brasil possui reservas internacionais maiores, de US$ 370 bilhões, ante US$ 205 bilhões há três anos, para fazer frente à turbulência.

"O governo vem adotando medidas monetárias, com a queda dos juros, creditícias e cambiais, para tentar evitar um contágio maior", diz Luciano D’Agostini, economista do grupo de pes­­­quisa Macroeconomia Es­­truturalista do Desen­­­vol­­­vimento. Para Breno Lemos, professor da PUCPR, no entanto, esse é um mérito que precisa ser relativizado. "Estamos melhor porque os outros estão muito mal. O Brasil não está atacando questões que podem gerar crescimento sustentado no futuro, como aumentar a produtividade da indústria e investir em educação", acrescenta.

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Economia | 6:43

Perda de competitividade da indústria, menor ritmo do consumo e endividamento prejudicaram o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros meses do ano. Piora do cenário na Europa também deve afetar a economia brasileira, diz especialista.

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