A atividade industrial costuma se intensificar a partir de agosto, quando começa o atendimento às encomendas da época de festas do comércio, mas este ano a produção continua em queda. Ao mesmo tempo em que muitas indústrias colocaram o pé no freio e reduziram a ocupação da capacidade instalada, os níveis de estoques permanecem estáveis, mostrando que o cenário hostil e as vendas aquém do esperado continuam limitando o processo de ajuste do setor, que vem encolhendo desde o início do ano.
Dados da Sondagem Industrial da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) mostram que em agosto, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) do setor se manteve estável em 66%, embora esperava-se que na passagem de julho para agosto ocorresse uma redução da ociosidade da produção. Em 2011, 2013 e 2014 o índice subiu dois pontos percentuais entre julho e agosto e, em 2012, um ponto percentual. Hoje, uso da capacidade da indústria brasileira está seis pontos percentuais inferior ao registrado ao mesmo mês do ano passado.
Isso mostra que a redução do uso da capacidade pelas indústrias não tem sido suficiente para fazer os estoques baixarem. Na prática, estoque indesejado é sinônimo de produto encalhado. “Esse é um retrato que mostra que a queda na demanda está vindo mais forte do que o previsto. A resposta natural é reduzir a produção e deixar o acúmulo de estoque sair. Na medida em que as empresas não conseguem gerar essa redução dos estoques, é o sinal que a queda na demanda está surpreendendo”, afirma Renato da Fonseca, gerente de pesquisa e competitividade da CNI.
Ou você funciona por inteiro, com toda a capacidade produtiva, ou você diminui a produção e tem o produto saindo mais caro
Em agosto, os estoques da indústria brasileira marcaram 51 pontos, ante 50,7 de julho, o que mostra uma tendência ao crescimento. A escala da pesquisa é de 0 a 100, quanto mais perto de 50, a indicação é de estabilidade. Abaixo significa queda nos estoques e acima significa aumento. O acúmulo de mercadorias prejudica a recuperação do setor, que só consegue voltar a crescer quando diminuir o estoque.
Estratégia
Para enfrentar a crise que se desenhava já no fim do ano passado, a paranaense Sepac, uma das maiores produtoras do país de papel tissue (usado em papel higiênico, toalha de papel e guardanapo), traçou uma tática contrária à tendência: decidiu ocupar toda a capacidade produtiva da fábrica, localizada em Mallet, no Sudoeste do estado, para diminuir o custo dos produtos.
“Procuramos ocupar toda a capacidade que estivesse ociosa porque partimos da premissa que os custos de produção têm que ser alocados por toneladas de produtos. Ou você funciona por inteiro, com toda a capacidade produtiva, ou você diminui a produção e tem o produto saindo mais caro”, afirma João Ferreira Dias Filho, presidente da companhia.
Para garantir mercado para toda a produção, a Sepac investiu na área de vendas e ampliou o alcance dos produtos na região Sudeste. A expansão da distribuição levou a empresa a vender para o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e o Sul da Bahia, além da região Sul, onde já era forte. Atualmente a fábrica no Sudoeste produz 10,5 milhões de toneladas de produtos/mês, o que corresponde à produção de 3,5 milhões de rolos de papel higiênico por dia.