Análise
Número reflete 2009 fraco, diz economista
Segundo o economista André Macedo, da coordenação de indústria do IBGE, o crescimento recorde de 4,2% no emprego industrial em maio de 2010 ante o mesmo mês do ano anterior melhor resultado da série iniciada em dezembro 2000, similar ao resultado de outubro de 2004 reflete uma base de comparação muito deprimida do ano passado, quando a ocupação industrial havia caído 6,1% em maio.
Apesar da ressalva, ele avalia que "há um maior ritmo de contratações, independente dos efeitos da base". Macedo observou que o tombo provocado pela crise no mercado de trabalho industrial foi tão forte que, mesmo com a recuperação do emprego no setor, em curso desde julho do ano passado, o patamar da ocupação ainda está 3% abaixo do ponto recorde, que foi registrado em setembro de 2008, antes dos efeitos das turbulências internacionais sobre o setor.
Segundo Macedo, o ritmo de reação do emprego está sempre aquém da produção porque tradicionalmente as contratações são retomadas de forma mais lenta, já que envolvem custos elevados e necessidade de confiança na economia em longo prazo. No que diz respeito à queda de 0,9% na folha de pagamento real do setor em maio ante abril, Macedo explicou que considera o resultado uma "acomodação" e os dados negativos de abril e maio, ante o mês anterior, ocorrem após expansões significativas apuradas no início do ano. Segundo ele, ao contrário da ocupação, o patamar da folha de pagamento industrial já retornou ao patamar de antes da crise.
A pesquisa do IBGE ainda apontou que o emprego industrial no país subiu 0,3% em maio em relação a abril. No acumulado do ano, o emprego registra alta de 1,9% e, nos 12 meses encerrados em maio, queda de 2,6%. De acordo com o IBGE, em 2010 a folha de pagamento real acumula alta de 3,8% e, nos 12 meses encerrados em maio, queda de 0,9%.
Agência Estado
O índice de emprego relacionado ao pessoal ocupado na indústria paranaense cresceu 1,8% em maio, comparado com o mesmo mês do ano anterior, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice não só é inferior aos 4,8% registrados no Brasil, como também é o menor entre os estados pesquisados. Mas, se a indústria está contratando menos, por outro lado o Paraná teve 10,4% de aumento no valor da folha de pagamento real (em relação a maio de 2009), contra 3,7% no país. Apenas Pernambuco e a média conjunta das regiões Norte e Centro-Oeste superaram o Paraná neste indicador. O resultado da folha de pagamento é impulsionado tanto pelas negociações sindicais, que trouxeram ganhos reais aos salários, quanto pelo aumento da demanda de alguns setores. Quem mais contribuiu para o bom resultado em folha foram as indústrias de meios de transporte (25,8%), máquinas e equipamentos (23,5%), produtos químicos (42,5%) e alimentos e bebidas (5,5%).
"O emprego e o número de horas pagas, bem como o acréscimo na folha de pagamento real, estão diretamente ligados à produção industrial. E no Paraná assistimos à recuperação dos três índices relacionados ao emprego", explica Fernando Abritta, economista da coordenação de indústria do IBGE. Abritta também destaca que, apesar de a produção industrial no estado já ter voltado aos patamares pré-crise, os números relacionados ao emprego ainda caminham nessa direção.
"É como se a gente estivesse acumulando o crescimento de um período em que houve uma grande retração salarial. A crise de 2008 fez as negociações estancarem em 2009 e os resultados de agora refletem essa recuperação", avalia o economista Christian Luiz da Silva, professor de Economia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Ele lembra que abril e maio tradicionalmente são meses em que são feitos acordos sindicais, dissídios coletivos e outras negociações com o objetivo de reajustar salários. A economia nacional forte e aquecida favoreceu os acordos entre patrões e empregados e o resultado pode ser percebido no aumento de quase todos os índices relacionados ao emprego no Paraná.
Salário inicial
Outro fator que puxou o índice para cima é o salário de ingresso. Com o aumento da demanda por mão de obra e a relativa escassez de candidatos qualificados ao trabalho na indústria, as companhias passaram a oferecer salários melhores para tentar atrair novos funcionários. "O número de vagas também tem aumentado, o que significa que, além de novas contratações, os funcionários também têm feito mais horas extras", comenta o economista Cid Cordeiro, supervisor-geral do Dieese no Paraná. Tudo reflexo de uma produção industrial que cresce mês a mês, impulsionada pelo aquecimento da economia nacional.
O destaque negativo nas folhas de pagamentos da indústria paranaense ficou por conta de apenas dois setores: o de refino de petróleo e produção de álcool (-41,4% na comparação com maio de 2009, e -10,8% no acumulado de 2010) e o madeireiro (-10,3% e -1,1% respectivamente). Em relação às empresas de refino, segundo Abritta, os pagamentos da participação nos lucros aos funcionários, que normalmente ocorrem em maio, ainda não foram feitos. Já no caso das madeireiras, acrescenta o economista do IBGE, trata-se de um segmento que vem caindo gradativamente graças à pressão dos órgãos ambientais e às restrições dos importadores em relação à madeira brasileira.
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