A queda de 2,1% na produção industrial brasileira em abril, na comparação com março, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), surpreendeu analistas, que veem no resultado um sinal de desaceleração da economia. O mercado já aposta em um abreviamento do ciclo de aperto monetário. Para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana que vem ainda há convergência nas projeções de alta de 0,25 ponto porcentual, mas com arrefecimento para as próximas decisões.
Os setores de veículos automotores e máquinas e equipamentos foram as grandes influências negativas no índice, graças à queda na produção de automóveis e eletrodomésticos. O recuo verificado em abril ante março foi o mais acentuado desde dezembro de 2008, quando, no pior momento da crise econômica mundial, o índice registrou queda de 12,2%. "É preciso lembrar que dezembro de 2008 era o auge da crise", disse o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo.
Macedo afirmou que a queda na produção industrial em abril é explicada pela desaceleração no ritmo de concessão de crédito e pelo aumento dos juros, além de um maior volume de importações. "No primeiro trimestre do ano, observamos uma diminuição no volume de importações frente ao último trimestre de 2010. Mas em abril houve um movimento contrário: observamos um aumento no volume de importações, o que pode ajudar a explicar a queda na produção do setor de bens de consumo duráveis", explicou.
De acordo com economistas, a queda na produção industrial pode fazer com que o Copom decida encerrar mais cedo o ciclo de aumento na taxa básica de juros, a Selic. A LCA Consultores acredita que o desempenho fraco da indústria corrobora sua previsão de apenas mais dois aumentos da Selic, de 0,25 ponto porcentual cada. "Sabemos que há casas esperando cinco, até seis aumentos da Selic. Mas o dado da produção industrial tende a reforçar o cenário de que esse suficientemente prolongado que o Copom escreveu na última ata deve durar mais duas, ou talvez três reuniões, mas não deve passar disso", disse o economista-chefe da consultoria, Bráulio Borges.
Antes da divulgação do resultado, a Tendências Consultoria previa um ciclo de quatro elevações de 0,25 ponto porcentual na Selic, já a partir da reunião do Copom na semana que vem. Mas, agora, admite uma revisão. "A ata do Copom é clara sobre um ajuste prolongado, porque estamos diante de uma expectativa de inflação ainda muito alta. Mas há uma probabilidade maior de freio na elevação dos juros com esse dado da indústria", disse o analista da Tendências Rafael Bacciotti, para quem a produção industrial mostra sinais de acomodação. Na ata da última reunião, o BC previa um período "suficientemente prolongado" de juros altos.