A reinvenção da indústria automotiva não é só uma reorganização geográfica. O setor que moldou a forma como funcionam as cidades e se tornou a vanguarda do capitalismo global terá de desenvolver tecnologias mais limpas e continuar a popularizar o carro nos países emergentes.

CARREGANDO :)

Uma das surpresas de uma pesquisa da consultoria KPMG com executivos do setor automotivo é que as preocupações ambientais subiram neste ano para o topo da agenda, juntamente com a necessidade de cortar custos e a melhora na qualidade dos produtos. "Há alguns anos se falava muito em segurança. Agora, a grande tendência é a busca de motores eficientes, combustíveis alternativos, carros híbridos e, no longo prazo, a viabilidade da célula de combustível", comenta Charles Krieck, sócio-líder da KPMG para o setor automotivo.

O desenvolvimento de tecnologias limpas é essencial para a sobrevivência da indústria nos países desenvolvidos, onde a criação de metas rígidas para as emissões de gases do efeito estufa está mais avançada. "Também é uma questão de cuidar da imagem do carro na sociedade. Poluição e congestionamentos causam uma imagem negativa ao produto. Isso já é visto na Europa", completa Marcelo Alves, professor de engenharia mecânica da USP.

Publicidade

A principal transformação do automóvel será em seus propulsores. Nos próximos anos, conviverão linhas com motores a explosão mais eficientes, modelos híbridos (com propulsores elétricos e a explosão), e elétricos. Com o tempo, a tecnologia de célula de hidrogênio tomará conta do mercado. A transição deve demorar de 25 a 30 anos.

As linhas de produção ficarão ainda mais flexíveis. Uma das fábricas mais modernas do mundo, a da BMW em Leipzig, na Alemanha, mostra bem essa tendência. Sua linha foi planejada para trabalhar com cinco modelos completamente diferentes ao mesmo tempo e os fornecedores entregam em poucos minutos peças montadas dentro da unidade. Assim, a fábrica tem a capacidade de produzir em massa carros completamente diferentes de maneira simultânea. Para os clientes, a vantagem é encomendar o modelo com as especificações desejadas – e que podem ser alteradas até poucos dias antes da fabricação.

"O ideal para o futuro é a produção de carros sob medida. O consumidor quer escolher e ver o carro entregue em pouco tempo", afirma Carlos Louzada, diretor-superintendente da TBM Consulting. "A configuração das fábricas vai mudar. Elas vão ficar mais compactas, mas com a capacidade de produzir famílias de produtos mais variadas." E isso com o mínimo de interrupções, em uma evolução do eficiente sistema japonês, que causou muita dor de cabeça em Detroit.