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Pesquisa feita pelo Instituto FSB para a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o principal gargalo para o setor fabril é o transporte, mencionado por 73% dos entrevistados. A sondagem consultou 2,5 mil executivos de empresas de médio e grande porte entre 23 de junho e 9 de agosto.
Os demais problemas citados foram mencionados por parcelas bem menores do empresariado – energia foi citada como principal gargalo por 13%, saneamento por 6% e as telecomunicações por 5%.
Dos que consideram o transporte como o principal entrave, 77% informaram que as principais dificuldades estão relacionadas às rodovias. Entre elas estão as condições da infraestrutura das estradas e e a necessidade de ampliação e duplicação.
Não por acaso, as duas principais obras para melhorar o contexto da indústria mais citadas pelos empreendedores foram justamente melhorar a infraestrutura das estradas (mencionada por 36%) e ampliar ou duplicar rodovias (31%). E 19% falaram em ampliar a malha ferroviária.
Segundo o levantamento, 38% das empresas industriais afirmam que trocariam o frete rodoviário por outro tipo de transporte caso houvesse iguais condições estruturais entre os modais.
As ferrovias seriam a primeira alternativa para 28,5% dos industriais brasileiros para transferir suas operações de escoamento de produtos. Só não o fazem porque avaliam que hoje o setor ferroviário apresenta as piores condições entre os tipos de transportes – 63% consideram esse modal regular, ruim ou péssimo. Atualmente, somente 8% das indústrias usam as ferrovias para transportar sua produção.
As principais razões apontadas pelos 2,5 mil executivos entrevistados para mudar a operação para outro modal são a perspectiva de redução de custos (64%) e a maior agilidade para a entrega do produto (16%).
Para 46% dos entrevistados, o custo é o principal problema na logística e operação das empresas. Segundo 84%, o custo do transporte e da logística na indústria é alto ou muito alto – 79% indicam o frete como o principal custo logístico. Outros problemas relatados são o roubo de cargas (22%), má condição dos modais (20%) e má qualidade da frota (7%).
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, afirma que os aumentos dos investimentos em infraestrutura e a diversificação dos modais de transportes são imprescindíveis para reduzir os custos dos serviços e de produção.
“O custo logístico das empresas e consequentemente dos produtos para o consumidor só serão menores quando tivermos uma infraestrutura adequada”, diz o dirigente, em nota.
Principal deficiência está nas rodovias
A principal deficiência está na infraestrutura das rodovias, o principal modal utilizado pela indústria. Quase a totalidade dos entrevistados dizem usar este modal e apontam que ele é o principal no escoamento da produção, e 54% afirmam que as rodovias estão em condições regulares, ruins ou péssimas.
O gerente de Transporte e Mobilidade Urbana da CNI, Matheus de Castro, alerta que, mesmo diante da extrema dependência dos caminhões para o transporte de cargas no país, há um déficit enorme na oferta de serviços de transporte rodoviário, bem como nos modais ferroviário e hidroviário.
“Se tivéssemos mais oferta na parte da logística, o custo total do transporte para a indústria seria muito inferior. Isso vai muito além da disponibilidade de caminhões ou trens, é tudo que envolve e contribui para a maior eficiência da movimentação de cargas no país”, diz Castro, em nota.
Ele afirma que o Brasil tem potencial para o transporte de cabotagem, hidroviário e ferroviário, especialmente depois da criação do Programa BR do Mar e da aprovação do novo marco legal de ferrovias. “Temos um grande potencial para equilibrar melhor a nossa matriz de transportes”, destaca.
“Nenhum outro país continental como o Brasil utiliza tanto o transporte rodoviário como a forma principal da movimentação de cargas e de pessoas. Não faz sentido o modal rodoviário ser tão utilizado em distâncias longas”, diz.
As principais necessidades para a indústria em termos de logística e infraestrutura são novas autorizações ferroviárias, conclusão de obras da Ferrovia Norte Sul, desestatização de portos em geral, desestatização do porto de Santos e concessão da BR-040, entre Rio e Belo Horizonte.
Necessidades encaminhadas aos presidenciáveis
A própria entidade aponta, em documento encaminhado aos presidenciáveis, que o Brasil precisa aumentar os investimentos em transportes em pelo menos cinco vezes para eliminar os gargalos que impedem o país de ser competitivo e tornar sua logística adequada para o escoamento interno de cargas, bem como para exportações e importações.
O país precisa elevar os investimentos em infraestrutura de transportes dos atuais 0,4% para 2% do PIB, na avaliação do setor industrial, que julga necessário um esforço de ao menos duas décadas para modernizar a logística de transporte do país.
Não é só a CNI que aponta para essa necessidade. Números da Associação Brasileira da Infraestrutura e das Indústrias de Base (Abdib), divulgados no primeiro semestre, sinalizam que o país teria de investir pelo menos R$ 284,4 bilhões todos os anos, até 2031, para superar gargalos nas áreas de saneamento básico, transporte e logística.