Provas, trabalhos de conclusão, exames finais. Depois do esforço dos jovens estudantes em se qualificar é que vem o maior desafio: o primeiro emprego. Segundo análise de dados de 2006 a 2012 apresentada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), jovens entre 15 e 24 anos que nunca trabalharam têm 64% menos chances de encontrar um emprego que pessoas da mesma idade com experiência anterior e 70% menos que adultos com 25 anos ou mais. A dificuldade de inserção no mercado acaba estimulando o aumento da geração nem-nem (nem estuda e nem trabalha), que hoje representa um quinto dos jovens de 15 a 29 anos, segundo o IBGE.
A ausência de políticas públicas de incentivo à contratação de jovens sem experiência os deixa à mercê de políticas empresariais e do cenário econômico. O Programa Nacional do Primeiro Emprego (PNPE), proposto pelo ex-presidente Lula em 2003, não apresentou resultados e foi extinto. O Projovem, disponível apenas para jovens de famílias com renda per capita de até um salário mínimo, e o Jovem Aprendiz oferecem capacitação e aprendizagem, mas sem garantia de efetivação.
Aos com grau superior ficam os disputados programas de trainees ou o famoso "quem indica". Na necessidade, a juventude de currículo breve acaba optando pelo mercado informal, vagas em meio período ou funções aquém de suas capacidades.
Para Cláudio Dedecca, professor da Unicamp especializado em Economia do Trabalho, o cenário econômico tem grande influência na oferta de empregos para jovens sem experiência e 2014 não foi um ano favorável, devido à estagnação causada pela Copa do Mundo e as eleições. "As empresas devem buscar uma solução pra reativar o crescimento em 2015, mas o governo precisa se preparar principalmente com políticas educacionais de qualidade."
Com o baixo crescimento, as empresas absorvem mão de obra experiente em busca de resultados imediatos e a contratação de jovens, investimento de médio prazo, é a primeira a ser cortada. "Precisamos de políticas públicas que não isolem a contratação dos jovens, é necessário que o incentivo fiscal esteja alinhado a outras políticas sociais e econômicas", diz Amir El-Kouba, professor de MBA da FGV e do Isae na área de gestão de pessoas.
Estágio
O sistema de recrutamento das empresas pode ser outro obstáculo à estreia de jovens profissionais, pois com frequência aposta mais no currículo do que na identificação de potencial do candidato. Neste cenário, o estágio aparece como alternativa para o jovem provar suas competências e abrir caminho na empresa. "É um meio de conhecer o profissional e testar sua adequação à política da empresa. Com o cuidado para que seja um aprendizado e não uma estratégia barata para obter mão de obra", diz Regina Madalozzo, especialista do Insper em mercado de trabalho. Amir El-Kouba considera o estágio também como uma forma de adquirir habilidades relativas à cultura organizacional, já que o ensino é muito focado apenas no conhecimento técnico.
Sem "Q.I.", parcerias são alternativa
Na tentativa de suprir a falta de incentivo do governo, empresas e instituições de ensino firmam parcerias para a transição do estudante ao mercado de trabalho. Alesson Lopes (foto), de 21 anos, conquistou seu primeiro emprego na Bosch graças à parceria entre a multinacional e o Senai, onde obteve grau técnico. Ele começou como aprendiz e hoje é contratado como meio oficial, enquanto termina o curso de engenharia mecânica. "Foi uma grande porta de entrada e depois tenho chances de ser contratado como engenheiro. Quando a oportunidade vem é preciso dar o melhor para que acreditem no seu potencial", diz.