Pela primeira vez em quatro anos a cesta de tarifas públicas (aquelas monitoradas ou administradas pelo governo) teve deflação num período de 12 meses seguidos, em Curitiba. Ou seja, ficou mais barata em relação aos 12 meses anteriores. A queda nos preços foi de 0,20%, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que faz o levantamento desde 2002. A redução ajuda a explicar por que o IPCA (índice oficial de inflação do país, usado pelo governo federal para estabelecer suas metas) dos últimos 12 meses, de 3,70%, foi o menor desde junho de 1999. As tarifas representam 32% da composição do índice, que mede a inflação entre consumidores com renda entre 1 e 40 salários mínimos.
Contribuíram para o resultado dois reajustes negativos verificados no primeiro semestre: o da energia elétrica (-6,5% para quem paga em dia) e o do telefone (-0,44%), além da variação do preço da gasolina no período, que foi de -0,38%.
"Isso é impressionante, dada a instabilidade do preço do petróleo no mercado internacional", diz o diretor-presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná, Ulisses Kaniak. Em setembro, a queda de 1,35% no preço da gasolina foi o que mais forçou a deflação de 0,35% na cesta. O combustível fechou o mês a R$ 2,28 na média em Curitiba e a R$ 2,33 no Paraná. "Esse preço só foi possível porque os postos trabalharam com margens de lucro de R$ 0,16 por litro, muito abaixo do normal", acredita o economista Sandro Silva, do Dieese.
Esse cenário, contudo, deve mudar. Na semana passada, o preço dos combustíveis subiu em quase todas as bombas manobra comum nos primeiros dias úteis do mês, quando o consumidor tem dinheiro para encher o tanque. O levantamento de preços da semana passada não foi publicado ontem pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mas a Gazeta do Povo mostrou no sábado que a gasolina está sendo vendida acima de R$ 2,50 na capital.
Os outros combustíveis, apesar de não terem o preço controlado, também fazem parte do levantamento do Dieese. O álcool, que está no fim da safra, caiu 8,24% em setembro, fechando o mês com preço médio de R$ 1,31 mas, desde a semana passada, o preço supera R$ 1,50. O diesel caiu 0,22%.
No ano, a variação da cesta foi de -1,23%, por conta da forte deflação registrada nos últimos quatro meses, quando os preços caíram 2,60%. O único reajuste ainda previsto para este ano é o do pedágio, mas só em dezembro. Em 2005, a alta para a concessionária Ecovia, que opera a BR-277 entre Curitiba e o Litoral foi de 8,16%. Com poucas chances de alterações para o mês, o Dieese espera que a cesta de tarifas feche outubro em 0,83%. A maior influência do mês novamente deve ser a da gasolina, dessa vez para cima. O combustível deve ficar 4,91% mais caro, devendo fechar a R$ 2,45. "A não ser que os postos aproveitem os feriados desta semana e de Finados para aumentar ainda mais", considera Silva.