O governo reviu para cima as expectativas da inflação para 2022 e 2023. Para este ano, a projeção passou de 6,55% para 7,90%, e para o ano que vem, de 3,25% para 3,60%. “A partir de 2024 espera-se convergência da inflação (IPCA) para a meta de 3%”, informa o Boletim Macrofiscal da Secretaria de Política Econômica (SPE).
Segundo o secretário de Política Econômica, Pedro Calhman de Miranda, os números da alta nos preços vieram acima do projetado. Mas ele destaca que isto é um problema global. Os Estados Unidos enfrentam a maior inflação em 40 anos e a União Europeia, a mais elevada desde 1999, quando foi adotado o euro.
Entre os fatores que contribuíram para o aumento nas expectativas estão a alta dos alimentos; a manutenção do preço do barril do petróleo em patamares próximos aos US$ 100, o que obrigou a Petrobras, no dia 6, a aumentar o preço do diesel nas refinarias e uma inflação de serviços mais elevada.
“O grupo alimentação e bebidas têm apresentado sucessivas altas, com uma variação de 13,46% no acumulado em 12 meses até abril/22. Por seu turno, o grupo transportes tem oscilado entre 17,0% e 20,0% no acumulado de 12 meses nesses primeiros quatro meses do ano”, aponta o boletim.
A sinalização para a inflação está próxima das últimas expectativas de mercado, divulgadas no início de maio pelo Banco Central. Bancos, corretoras e consultorias sinalizavam, no relatório Focus, que o ponto médio das previsões estava em 7,89%. Já para o próximo ano, as expectativas do governo são mais otimistas do que as de mercado, que sinaliza para uma alta de 4,1%.
A Secretaria de Política Econômica considera que “os riscos externos devem ser monitorados, sobretudo a guerra na Ucrânia e seus impactos nas cadeias globais de valor.” E reitera que riscos de eventuais efeitos remanescentes da pandemia sobre crescimento econômico e inflação continuam sendo avaliados.
Projeção para PIB é mantida
As projeções para o produto interno bruto (PIB) permaneceram estáveis em 1,5% para este ano e 2,5% a.a. para o período 2023-2026. Entre os fatores positivos para impulsionar o crescimento, segundo a SPE, estão a taxa de poupança elevada, a recuperação do setor de serviços, a melhoria do mercado de trabalho e o investimento, tanto privado quanto em parceria com o setor público.
“A nossa recuperação está melhor do que muitos países lá fora, como os do G-7 e os emergentes”, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, que participou da divulgação do boletim Macrofiscal.
Já Calhman aponta que a economia vem se recuperando mesmo em relação à grave recessão de 2014-6, quando a economia encolheu mais de 6%. Além de aspectos conjunturais, ele cita o processo de consolidação fiscal e a adoção de medidas pró-mercado no atual governo. “As projeções de mercado estão convergindo para as do governo.” No final do ano passado, instituições financeiras projetavam encolhimento do PIB em 2022.
Um dos segmentos em que essa recuperação é mais evidente é o mercado de trabalho, frisa o subsecretário de Política Macroeconômica, Fausto Vieira. Houve a criação líquida de 615,2 mil postos de trabalho com carteira assinada no primeiro trimestre, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Segundo a SPE, entre os principais setores da economia, o de serviços tem maior participação na criação de empregos em todos os meses do primeiro trimestre. Em março, 81,9% da geração líquida de postos de trabalho veio desse setor.
“A taxa de desemprego atingiu o menor valor desde o observado no primeiro trimestre de 2016 (10,5%), com ajuste sazonal. Por seu turno, a população ocupada retornou ao patamar observado no terceiro trimestre de 2019, período bem anterior ao pior momento da pandemia. Além disso, em relação às medidas de subutilização, o indicador de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas e o percentual de pessoas desalentadas vêm apresentando melhoras constantes e significativas nos últimos trimestres”, enfatiza o boletim.
No final do primeiro trimestre, o estoque de postos de trabalho formais chegou a 41,3 milhões, o maior valor desde que a série do Novo Caged se iniciou, em janeiro de 2020.
Consolidação fiscal e reformas pró-mercado
O boletim aponta que os efeitos do processo de consolidação fiscal e das reformas pró-mercado afetam positivamente o crescimento de longo prazo. “A maior taxa de poupança privada, o controle dos gastos governamentais e o processo de concessão de investimento são consequências destas medidas, melhorando o ambiente de negócios e possibilitando ao setor privado investir nos ramos de atividade em que há maior produtividade”, destaca o documento.
“Estamos com números bem melhores dos que os de 2021”, destaca o subsecretário de Política Fiscal, Bernardo Borba de Andrade. A última divulgação do BC mostra uma queda de 79,3% para 78,5%, em relação ao PIB, do endividamento público. Ele também lembra que, em fevereiro, registrou-se o primeiro resultado positivo em oito anos para esse mês, e em março, houve o segundo superávit seguido para esse mês desde 2014.
O boletim sinaliza que desde 2019, dentro de cada ano, as projeções de mercado refletem um processo de consolidação fiscal com melhorias sucessivas da expectativa da razão dívida/PIB e, em 2022, retorno ao nível de 2019.
Segundo o subsecretário, esses números reforçam a possibilidade de se registrar um superávit nas contas públicas em 2025. “Não me surpreenderia se acontecesse antes.”
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