A premiação de Edmund Phelps, tido como "neoliberal" e "conservador", desagradou uma porção de economistas de outras correntes, que põem no conservadorismo do Banco Central a culpa pelo baixo crescimento do país. "Keynesianistas" e "desenvolvimentistas" costumam ter idéias opostas às de monetaristas como Phelps e boa parte dos que tomam decisões no BC. Os opositores do mais novo Nobel evitam se ater ao mero controle da inflação; estão mais preocupados em como o Estado pode promover o crescimento econômico e a geração de empregos.
Para os monetaristas mais ferrenhos, políticas de Estado para impulsionar a atividade produtiva têm efeitos positivos somente no curto prazo. Ao que os desenvolvimentistas rebatem, usando uma frase do economista John Maynard Keynes: "A longo prazo, estaremos todos mortos". A discussão parece não ter fim, mas, de todo modo, é difícil encontrar quem reclame do atual nível de inflação no Brasil, que ficou abaixo de 3% nos últimos 12 meses resultado, em grande parte, da ação ortodoxa do Banco Central.
"Bom para todos"
"O simples fato de que a inflação está baixa é um aspecto positivo, e demonstra um acerto das políticas econômicas dos últimos anos", diz José Paulo da Rocha, sócio-líder da área de finanças corporativas da consultoria Deloitte. Robson Ribeiro Gonçalves, professor do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (Isae/ FGV), concorda: "A inflação no Brasil hoje é menor que a dos EUA. Gerações inteiras de brasileiros jamais imaginaram que isso pudesse acontecer um dia".
Embora um ou outro empresário ainda argumente, de maneira reservada, que "um pouquinho mais de inflação não faria mal" afinal, preços mais altos elevam o faturamento e a margem de lucro das companhias , a maioria diz estar muito confortável com o nível atual. "Ele é bom para todo mundo", defende Joel Malucelli, diretor do Grupo J. Malucelli. "A maior vantagem é a manutenção do poder de compra do consumidor, até porque as empresas têm condições de dar sempre aumento real ao salário de seus trabalhadores."
Para Ivo Wolff Júnior, diretor administrativo e comercial da distribuidora de aço Perfimec, de Curitiba, a própria gestão da empresa fica mais simples quando os preços oscilam pouco: "Quando você trabalha com uma projeção de estabilidade nos seus custos e preços de venda, é muito mais fácil fazer um planejamento consistente, de longo prazo".
Para Robson Gonçalves, do Isae/FGV, a taxa "real" de juros (Selic menos inflação) poderia estar em 8%, "com grandes benefícios à economia e sem risco de provocar aumento nos preços". Hoje, a taxa básica é de 14,25% descontada a inflação, o juro real fica acima de 11%. "Nada justifica que um país tenha os juros mais altos do mundo por dez anos. Não há como defender uma política de combate à inflação que use uma dose tão alta desse remédio", critica o economista.
José Paulo da Rocha, da consultoria Deloitte, acredita que, por si só, a redução dos juros não é suficiente. "Quando o juro real cair para 9%, o governo vai precisar adotar outras medidas para incentivar o aumento da capacidade produtiva, senão a inflação vai voltar", diz Rocha. "As empresas investem pensando no longo prazo. O governo precisa dar bons indicadores nesse sentido, em questões como política fiscal, carga tributária e o alto endividamento interno." (FJ)