A inflação começou o ano com o pé no acelerador. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) do mês de janeiro atingiu 0,65%, contra 0,56% do índice de dezembro. O indicador (que avalia as variações de preços na segunda metade de um mês e na primeira metade do mês seguinte) é considerado uma prévia do IPCA, usado pelo governo como referência para medir a inflação oficial e as metas do Banco Central.
Com o resultado, o IPCA-15 acumula alta de 6,44% nos últimos 12 meses até janeiro. No mesmo período do ano passado, o índice ficou em 0,76%. "Certamente esse não é um resultado bom. Se for observado, esse é um índice anualizado de 8%, o que é uma inflação muito alta", aponta o economista Lucas Dezordi. Segundo ele, ainda há uma pressão grande do grupo de alimentos, por causa de fatores climáticos como a seca no Sul e o excesso de chuvas no Sudeste. "Também é comum que no início do ano a inflação venha um pouco mais forte por causa de preços controlados reajustados na virada do ano", diz.
Centro da meta
Para Dezordi, a prévia deve acender um sinal de alerta no Banco Central, que deve aumentar a atenção no monitoramento do processo inflacionário para manter os índices próximos ao centro da meta de 4,5% ao ano. O professor de Economia Luciano Nakabashi, da USP de Ribeirão Preto, avalia que o governo pode estar "relaxando" no controle da inflação. "Ao que parece, o governo não está mais dando muita importância ao centro da meta. Está mais interessado em garantir o crescimento diante de um cenário internacional turbulento", diz.
Para Nakabashi, informalmente o governo passou a trabalhar com o teto da meta de 6,5% ao ano , exatamente a inflação acumulada ao longo de 2011. "Apesar de estar formalmente dentro da meta, é uma inflação alta. O governo tem de ver até que ponto de fato vale a pena ser complacente com a inflação. Ninguém quer a inflação de volta e isso pode custar popularidade", avalia.
"Se olharmos em relação ao mesmo período do ano passado, está havendo uma desaceleração, mas a base de 2011 foi elevada. Acreditamos que esta desaceleração deve acontecer até maio, com o acumulado de 12 meses chegando a 5%, e depois volte a acelerar. Nossa previsão é de que o índice termine o ano em 5,45%" afirma a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.
Segundo Nakabashi, o setor de alimentos pode continuar pressionando os índices, assim como o setor de serviços. "O BC ainda está em um ciclo de redução de juros, que parece que vai continuar. Se a situação lá fora for menos preocupante do que estão prevendo, a pressão nos preços pode ser mais forte do que o governo gostaria", prevê.