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conjuntura

Inflação “come” parte dos ganhos e endurece negociações salariais

Com o governo federal menos transigente, a greve dos Correios durou quase um mês e só foi encerrada pela Justiça | Marco André Lima/ Gazeta do Povo
Com o governo federal menos transigente, a greve dos Correios durou quase um mês e só foi encerrada pela Justiça (Foto: Marco André Lima/ Gazeta do Povo)

Embora o mercado de trabalho aquecido seja favorável à obtenção de ganhos reais, as incertezas em torno dos efeitos da crise financeira mundial no Brasil e os sinais de desaceleração do mercado interno já começam a engrossar o discurso negativo dos patrões e a dificultar as negociações coletivas deste segundo semestre de 2011. A inflação, que propiciou aumentos mais significativos entre janeiro e maio – quando estava na casa dos 6% – também comeu parte desses reajustes ao atingir 7,3% no acumulado de 12 meses em setembro.

Para analistas, as categorias com data-base entre outubro e dezembro devem ter menos sucesso que aquelas que fecharam acordos nos primeiros seis meses do ano – quando 93% das 353 negociações monitoradas no período pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco­nô­­micos (Dieese) tiveram reajuste igual ou superior ao Índice Na­­cio­­nal de Preços ao Consumidor (INPC). No mesmo período de 2010, o resultado foi melhor (96,3%) e se deu com menos conflitos.

"Há uma imprevisibilidade maior em relação ao futuro nas empresas e isso tende a aumentar os conflitos, porque os trabalhadores continuam com alto poder de barganha", diz o sociólogo Adal­ber­­to Cardoso, do Instituto de Es­­tudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

O efeito do salário mínimo, que nos últimos anos subiu mais que os salários da iniciativa privada, também ajudou a gerar uma percepção nos sindicatos de que suas bases estavam perdendo renda. "Esse processo de recomposição do mínimo induz os sindicatos a buscar ganhos semelhantes", observa Cardoso.

Entre as grandes categorias profissionais, os bancários – que em Curitiba voltaram ontem ao trabalho – conseguiram 9% de reajuste nominal (1,5% de ganho real). Ain­­da estão em negociação os petroleiros (são 70 mil empregados diretos da Petrobras, além de outros 300 mil terceirizados) e os metalúrgicos de São Paulo (260 mil trabalhadores), que têm data-base em no­­vembro. Para pressionar as empresas, ambas as categorias já declaram estado de greve. No Paraná, metalúrgicos que trabalham em fábricas de autopeças e outros setores também estão iniciando negociações.

Segundo o Dieese, a média do ga­­­nho real em 2011 deve seguir os resultados do primeiro semestre (1,4%), um pouco abaixo do obtido em 2010 (1,56%). Aqui no Paraná, neste segundo semestre, os reajustes reais dos trabalhadores gráficos (1,44%), do setor de limpeza (1,22%), dos vigilantes (2,57%) e dos servidores de São José dos Pi­­nhais (1,3%), vêm confirmando as expectativas.

Exemplo

Um exemplo do endurecimento das negociações neste ano foi a longa campanha salarial dos funcionários da Volkswagen, que tem fá­­brica em São José dos Pinhais (re­­gião metropolitana de Curitiba): eles pararam por 37 dias. O ganho real na Volks, na Renault-Nissan (que também tem fábrica em São José) e na Volvo (de Curitiba) ficou em 2,5%, bem abaixo do obtido pelos funcionários das três montadoras no ano passado (5,55%). Desta vez, as principais conquistas vieram na forma de abonos e Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

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