Após seis meses flertando com o estouro do teto da meta estipulada pelo governo, de 6,5%, a inflação acumulada em 12 meses finalmente arrefeceu e encerrou 2014 dentro do limite de tolerância, aos 6,41%, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas os preços continuam pressionados. No último mês do ano, as passagens aéreas dispararam, com alta de 42,53%, principal contribuição para a taxa de 0,78% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro. Os aumentos nas carnes e na refeição fora de casa também ajudaram a impulsionar a inflação. Juntos, os três itens responderam por quase metade do IPCA do mês.
"A tendência é que a inflação ainda fique bastante pressionada nos próximos meses pelos alimentos, por uma questão sazonal de pressão do clima, e pelas revisões tarifárias, como reajustes nos transportes públicos. O IPCA volta a superar o teto da meta em janeiro. Essa nova equipe econômica não vai ter alívio tão cedo", apontou o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores.
Em janeiro, o IPCA deve disparar a 7,11% no acumulado em 12 meses, diante de uma inflação de 1,22% no mês, prevê a Tendências Consultoria Integrada. "A aceleração do indicador deve refletir o intenso avanço do grupo Habitação, que irá captar a alta de 8,8% esperada para o item energia elétrica", citou Adriana Molinari, da Tendências, cuja projeção contempla ainda impactos dos reajustes de ônibus urbano.
O IBGE confirma que os aumentos em produtos e serviços administrados devem fazer a inflação começar 2015 já pressionada. Itens com peso relevante no orçamento das famílias já tiveram os preços reajustados. "Nesse primeiro mês do ano, vários itens administrados já sofreram aumentos: a taxa de água e esgoto, transportes, energia elétrica, ônibus urbano de regiões importantes. Então, nesse mês de janeiro, o brasileiro vai pagar mais caro por vários itens de consumo", ressaltou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora do IBGE.
A inflação absorverá também aumentos já efetivados de ônibus intermunicipal, táxi e cigarros. No caso da conta de luz, além dos reajustes concedidos, entrou em vigor o sistema de bandeiras tarifárias, que repassa ao consumidor o aumento nos custos de geração.
Influência da seca
A estiagem prolongada que em 2014 afetou, sobretudo, a Região Sudeste do país, teve forte influência sobre a inflação oficial. Houve impactos relevantes nos alimentos e na tarifa de energia elétrica.
As carnes, que tiveram as pastagens afetadas pela estiagem, subiram 22,21% em 2014. Já a tarifa de energia aumentou 17,06%. Os itens puxaram os gastos com alimentação e habitação, despesas que mais pesaram no bolso dos consumidores.
Cesta básica