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IGP-M

“Inflação do aluguel” sobe o dobro da média e pode pressionar reajuste

 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
(Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou, na manhã desta segunda-feira (30), dados do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M). Conhecido como a “inflação do aluguel” — o índice é utilizado como referência na negociação de novos contratos — o IGP-M registrou alta de 0,51%, acumulando um saldo de 8,24% nos últimos 12 meses, ritmo duas vezes maior do que o da inflação no período.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) registra uma média de 4,11% para este ano. A projeção do Relatório Mercado Focus, também divulgado nesta segunda-feira, é de que a inflação feche o ano de 2018 na casa de 4,5%, com margem de 1,5 ponto (de 2,75% a 5,75%).

O crescimento do IGP-M acima da média pode pressionar o mercado de aluguéis, já que o índice é tradicionalmente utilizado como referência na negociação para renovação de contratos já existentes.

Mas a relação entre índice e alta não é direta. Na cidade de São Paulo, maior mercado do país, o preço médio da locação residencial caiu nos últimos cinco meses, na contramão da alta do IGP-M, segundo dados do Secovi-SP (sindicato da habitação). Em junho, por exemplo, quando o IGP-M registrou alta acumulada de 6,9% (em 12 meses), o reajuste do aluguel residencial somou -0,6%, em São Paulo.

Isto porque o mercado de locações ainda sofre com o impacto da crise, que alavancou o número de imóveis vazios, o que pressionou os proprietários por uma redução de preços. Há três anos, aliás, o movimento era contrário: “o IGP-M estava lá embaixo e o mercado de aluguéis lá em cima”, lembra o vice-presidente de Locação do Secovi-SP, Mark Turnbull.

É um sinal de que a alta do IGP-M não necessariamente vai pressionar o mercado de locações, avalia Turnbull. “Porque é [só] um índice econômico. O proprietário vai aplicar o preço que tem direito a aplicar (...) e aquilo que o mercado está disposto a pagar”.

Entre 2016 e 2017, o mercado sofreu muito com a vacância de imóveis, que acaba transformando um pontecial rendimento (do aluguel) em despesa (com gastos como IPTU e condomínio). Fenômeno que obrigou os proprietários a negociarem valores mais baixos, tanto na renovação quanto nos novos contratos.

Avaliando o mercado paulistano, Turnbull acredita que a tendência atual deve persistir: “o mercado imobiliário residencial deve continuar favorável para os inquilinos” até o fim deste ano e ainda nos primeiros meses de 2019.

A tendência é este ciclo se inverter eventualmente. “A economia começa a reagir, os imóveis que estão vazios começam a ser ocupados, e aí sim os preços melhoram e é a hora do proprietário [recuperar]”, avalia.

Curitiba tem lenta retomada

O fenômeno de lenta retomada e valorização dos preços dos aluguéis já pode ser sentido no mercado da grande Curitiba. “Tanto pela inflação quanto pela queda no número de imóveis vazios”, avalia o vice-presidente de Locação do Secovi-PR, Leonardo Baggio.

Os dados do mês de julho, compilados pelo Inpespar (instituto ligado ao Secovi-PR) já indicam isso. Apenas duas modalidades (casas de alvenaria de três e de quatro dormitórios) tiveram redução no preço médio praticado.

Todos os demais sofreram reajuste, com destaque para os sobrados (4,7% acima do mês anterior) e casas de alvenaria com um dormitório (2,1%).

“A gente tinha um excesso de oferta de imóveis no mercado, mas este exccesso está sendo absorvido ao longo dos últimos meses”, explica Baggio. O que se reflete nos preços, que já vivem uma fase de valorização.

O representante do mercado é otimista, e avalia que não deve ocorrer novas oscilações negativas nos valores do aluguel, em especial no residencial, mais vigoroso do que o comercial. “Tanto nas renovações quanto em novos contratos, a gente acredita que [os preços] acompanhem os valores da inflação mais do IGP-M do que do INPC”, conclui o diretor do Secovi-PR.

Desaceleração do IGP-M foi influenciada pelo setor agropecuário

A marca de 0,51% do IGP-M, em julho, representa uma desaceleração na alta do índice, na comparação com o mês anterior, quando chegou a 1,87%. Entre os três indicadores que compõem o IGP-M, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) desacelerou de 2,33% para 0,50% entre junho e julho. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-M) também desacelerou de 1,09% para 0,44. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) que passou de 0,76% para 0,72% no período.

A desaceleração no ritmo de alta do IGP-M teve bastante influência do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) Agropecuário, que saiu de alta de 3,03% em junho para recuo de 1,83% em junho, conforme informou a FGV. O alívio ainda foi puxado pelo arrefecimento do IPA Industrial, que saiu de 2,10% no sexto mês do ano para 1,30% em julho.

O IPA atingiu 0,50%, ficando bem aquém da elevação de 2,33% em junho. Em 12 meses, o IPA acumula alta expressiva de 10,50%, inferior à de 8,24% do IGP-M em igual período e que ficou em 0,51% em julho (de 1,87%).

Na cadeia produtiva, os Bens Finais justificaram o arrefecimento do IPA, com recuo de 0,15% depois de aumento de 2,58% em junho. Nessa etapa de produção, o destaque foram os alimentos in natura, cuja taxa de variação passou de elevação de 8,19% para declínio de 11,55%.

O índice relativo a Bens Finais (ex), que exclui os subgrupos alimentos in natura e combustíveis para o consumo, registrou alta de 0,99% em julho, ante 1,84% no mês anterior.

Os Bens Intermediários tiveram leve arrefecimento, de 2,42% em junho para 2,11% em julho, com influência de subgrupo suprimentos, que saiu de alta de 4,72% para variação positiva de 2,25%.

Já as Matérias-Primas Brutas tiveram queda de 0,70% este mês depois de elevação de 1,92% em junho. Os itens que mais contribuíram para esse alívio foram: milho (em grão), de alta de 3,70% para recuo de 9,53%; aves, de elevação de 21,22% para alta de 8,12%; e minério de ferro, que passou de retração de 0,06% para declínio de 1,50%).

Em contrapartida, os produtos a seguir pressionaram o índice: leite in natura (de alta de 3,24% para 7,36%), bovinos (de queda de 0,64% para alta de 1,18%) e arroz (em casca) (de alta 2,54% para 4,69%).

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