Pesquisas mostram queda na confiança de empresários e consumidores.| Foto: Ilustração: Vandré Kramer/Gazeta do Povo com DALL-E
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A atividade econômica e o mercado de trabalho se mostraram mais aquecidos do que era esperado para 2024. Porém, surgem sinais de alerta. Pesquisas divulgadas nos últimos dias apontam que consumidores e empresários demonstram cautela devido ao temor com inflação e juros altos.

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Felipe Vasconcelos, sócio da Equus Capital, avalia que o cenário de demanda aquecida no mercado de trabalho pode pressionar ainda mais a inflação, o que justificaria uma postura restritiva do Banco Central em relação à taxa básica de juros (Selic).

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) anunciou um novo aumento na taxa Selic, de meio ponto percentual, para 11,25% ao ano. Novas altas estão no radar e o ciclo de aumento nos juros pode demorar mais para terminar se as expectativas para a inflação continuarem aumentando.

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Nesta semana, o ponto médio das projeções do mercado financeiro para o IPCA, registradas no boletim Focus do BC, registrou a sexta alta consecutiva e a terceira vez em que está acima do teto da meta, que é de 4,5%. Os preços ao consumidor aumentaram 4,76% nos últimos 12 meses até outubro, de acordo com o IPCA.

"Surpresa muito negativa no IPCA de outubro, com inflação acima das expectativas de mercado. A pressão de alimentos continua, e os efeitos do câmbio começam a ser sentidos. O cenário de inflação dentro do limite da meta de 4,5% se torna muito difícil para 2024, e as expectativas para 2025 devem piorar", diz o diretor nacional do Ibmec, Reginaldo Nogueira.

"Haverá mais pressão sobre o Banco Central na última reunião do ano do Copom, quando um aumento dos juros de 0,75 ponto não pode mais ser descartado", acrescenta.

Felipe Beraldi, gerente de indicadores e estudos econômicos da Omie (uma desenvolvedora de sistemas de gestão empresarial), também aponta que, além das pressões gerais, itens como combustíveis e planos de saúde têm elevado a inflação.

O aquecimento do mercado de trabalho e o aumento real do salário mínimo representam desafios adicionais para pequenas empresas, que enfrentam aumento de custos com mão de obra.

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O desemprego encerrou setembro em 6,4%, de acordo com o IBGE, menor taxa desde 2013. O número de trabalhadores com carteira de trabalho assinada era de 47,5 milhões no mês, o maior já registrado pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Novos aumentos da Selic podem não ser suficientes para desacelerar a economia. "Há poupança excedente nas famílias, e o mercado de trabalho aquecido e os salários, beneficiados pelo aumento real do mínimo, devem sustentar o consumo", destacam economistas do Bradesco em relatório. No entanto, eles observam que, historicamente, taxas de juros nesse patamar tendem a frear a atividade econômica, reduzindo a inflação.

Outro fator de atenção, embora em menor grau, são os conflitos no Oriente Médio. "Esse cenário geopolítico pode afetar toda a cadeia produtiva global, com potenciais impactos relevantes na economia mundial", ressalta Daniel Maranhão, CEO da Grant Thornton Brasil.

Os impactos políticos e econômicos da eleição do republicano Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a guerra na Ucrânia e as tentativas da China em reacender a economia também estão no radar.

Confiança do consumidor e impacto no consumo

O Índice de Confiança do Consumidor, calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), apresentou queda em outubro, após quatro altas consecutivas. O recuo reflete uma percepção negativa das famílias em relação às finanças e afeta especialmente o consumo de bens duráveis, pressionado pela alta dos juros e pela desaceleração econômica.

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A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) registrou, em outubro, a menor intenção de consumo das famílias desde março. “Famílias de maior renda estão mais cautelosas em relação ao crédito para bens duráveis. Com a perspectiva de novas altas na Selic, espera-se uma retração ainda maior nesse setor”, comenta Felipe Tavares, economista-chefe da entidade.

Outro problema é a inadimplência elevada. Segundo a Serasa Experian, em agosto 72,5 milhões de brasileiros tinham alguma restrição ao crédito, o equivalente a 44,8% da população adulta. Embora o número seja menor que o de abril, ele é 1% superior ao registrado no mesmo mês de 2023.

“Sem uma melhora consistente na renda dos consumidores, os aumentos nos gastos deverão continuar bastante modestos nos próximos meses”, observa Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.

A confiança dos empresários do comércio também recuou, segundo estudo do FGV Ibre. Mesmo com o crescimento na renda das famílias e o mercado de trabalho aquecido, eles mantêm previsões de expansão menor nas vendas futuras.

O quarto trimestre do ano, que geralmente é impulsionado por eventos como a Black Friday e o Natal, começou de maneira inesperadamente morna, avalia a economista Georgia Veloso, do FGV Ibre.

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Segundo a CNC, a confiança dos empresários do setor deu uma estagnada em setembro, interrompendo uma sequência de cinco quedas consecutivas. A avaliação não é otimista: a pressão inflacionária e a alta nos juros limitam o crescimento do consumo e o potencial de investimento. Ela sinaliza que o próximo ano deverá ser bem desafiador.

O cenário de desafios é confirmado por Claudio Felisoni de Araújo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) e professor na FIA Business School. Ele observa uma instabilidade no desempenho do setor varejista. Também aponta que ainda não é possível identificar um crescimento sustentável nas vendas do varejo, apontando para um cenário de incertezas no mercado de consumo.

Indústria: muita cautela em relação ao futuro

O pessimismo com a economia está reduzindo a confiança dos empresários industriais, aponta pesquisa divulgada na terça (12) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). "O que trouxe a queda da confiança em novembro foi a avaliação sobre a economia. Tanto a avaliação quanto às condições correntes quanto às expectativas", diz Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da entidade.

Na construção civil, a situação é um pouco melhor, mostram dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Apesar do otimismo, empresários demonstram preocupações quanto à elevada carga tributária e ao custo de trabalhadores qualificados, além da escassez de recursos e do aumento dos custos de insumos, que têm pressionado o setor.

A percepção entre os empresários indica uma deterioração na situação financeira das empresas ao longo do terceiro trimestre, marcada por uma alta nos preços de insumos e matérias-primas. Segundo o FGV Ibre, esses custos cresceram 5,12% nos 12 meses encerrados em outubro, em comparação com 3,37% no mesmo período do ano anterior.

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A pesquisa foi realizada antes de a Caixa Econômica Federal, responsável por 70% dos financiamentos imobiliários no Brasil, adotar restrições mais severas nas linhas de crédito atendidas pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). As novas diretrizes incluem uma redução no teto de financiamento e limitações quanto ao valor dos imóveis financiados, mudanças que impactam diretamente a classe média.

Essas restrições refletem o desafio de captação de recursos enfrentado pelo banco, que observou uma retirada líquida de R$ 11,2 bilhões da poupança – principal fonte de recursos do SBPE – ao longo do ano. Para compensar essa escassez, a Caixa estuda alternativas de captação, como Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs).

Especialistas alertam que essas mudanças podem resultar em um aumento dos custos dos financiamentos, dificultando o acesso à casa própria e ampliando o debate sobre as taxas de juros aplicáveis a futuros financiamentos imobiliários.

Setor de serviços: uma exceção à perda de confiança

A exceção nesse ambiente de desconfiança está nos serviços. A atividade no setor mostra sinais de aquecimento, impulsionada pelo crescimento de emprego e renda, beneficiando especialmente os serviços voltados às famílias, conforme destaca Stefano Paccini, economista da FGV.

“Após um início de ano morno, a atividade do setor parece estar aquecendo, com uma expectativa otimista em relação à demanda até o final do ano. O cenário macroeconômico, com bons resultados de emprego e renda, favorece o setor, que, aliado à melhora gradual na confiança do consumidor, reflete o bom momento dos serviços prestados às famílias”, afirma o economista.

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O setor acumula um crescimento de 2,3% em 12 meses, segundo dados de setembro.
"A atividade econômica brasileira continua apresentando um bom desempenho, sustentada por um mercado de trabalho em pleno emprego, crescimento da massa salarial e um ciclo de crédito benigno", diz Igor Cadilhac, economista do PicPay.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]