Em seu primeiro ano de governo, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, não conseguiu reativar a economia – analistas projetam queda do PIB em torno de 2% para 2016 –, e o prolongamento da recessão abaterá ainda mais o consumo. Em outubro, os gastos dos argentinos desabaram 7,5%, frente ao mesmo mês do ano anterior, na pior queda dos últimos dez anos. No ano do tarifaço dos serviços públicos, ainda às voltas com uma inflação anual de quase 40% e reajustes salariais, em média, de 33%, os argentinos estão em modo austeridade e se preparando para festas de fim de ano e férias de verão limitadas.
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Faltando poucos dias para o Natal, o panorama nos shoppings portenhos é de lojas quase vazias, que oferecem todo tipo de promoções para tentar atrair os consumidores. O governo Macri acaba de lançar o programa Agora 18, ao qual aderiram muitos comerciantes, ampliando o número de parcelas para pagamento com cartão de crédito sem juros. Também foi criada uma cesta de brinquedos com preços monitorados pelo governo. Mas o consumo, dizem especialistas, continuará com números negativos nos próximos meses.
“Os setores que mais sofreram foram eletrodomésticos, bebidas, laticínios e produtos cosméticos. A crise obrigou os consumidores argentinos a adotarem o modo austero, e não se gasta mais do que o estritamente necessário”, afirma Guillermo Oliveto, diretor executivo da consultoria W.
Com base em dados publicados pela Kantar WorldPanel, a consultoria argentina estima que o consumo cairá 3,5% este ano.
“O que mais afetou os consumidores foi o tarifaço, porque começaram a pagar por algo que antes era quase de graça”, explica Oliveto.
A inflação, a quarta mais alta do mundo, também explica grande parte da crise do consumo. Entre 2002 e 2015, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) argentino acumulou aumento de 1.300%. Somente nos dois governos da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), a inflação subiu 677%, assegura o analista.
“A sociedade está comprando menos por necessidade mas também por indignação pelos preços internos. Não é por acaso que milhares de argentinos que têm recursos vão fazer compras no Chile”, diz Oliveto.
A diferença de preços em relação ao Chile é expressiva. Um tênis de marca custa em torno de 700 pesos (US$ 43,75) nos shoppings de Santiago e 2.200 pesos (US$ 137,50) nas lojas portenhas.
“O poder aquisitivo dos argentinos foi muito reduzido este ano. Por isso, os consumidores passaram a fazer compras cada vez mais racionais e calculadas”, explica Patricia Sosa, da empresa de consultoria CCR.
Consumidores caçam ofertas
Para ela, hoje a maioria dos argentinos compra quase exclusivamente onde encontra ofertas e não faz mais estoque, “compra o que vai consumir de forma imediata”:
“Caiu tudo: alimentos, cosméticos, produtos de limpeza, bebidas e roupas.
Comer virou luxo. Os restaurantes portenhos fecharão o ano com queda média de 20% em seu faturamento. De acordo com a CCR, o Natal será bem ajustado, e o consumo de todos os produtos típicos das festas de fim de ano recuará entre 5% e 10%.
“As férias serão mais restritas. Os hotéis do litoral da província de Buenos Aires não têm muitas reservas e esperam uma temporada ruim.
Ambas as consultorias esperam reação no ano que vem, em sintonia com o que a Casa Rosada vem anunciando e na qual apostam empresários e comerciantes.
“Dependemos de muitos fatores, entre eles a economia brasileira, a reativação das obras públicas e novos investimentos”, afirma Patricia.
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