O atual momento de baixa inflação corrente no Brasil pode ser oportuno para que a Petrobras consiga convencer o governo a elevar os preços dos combustíveis, cuja defasagem em relação ao mercado externo é crescente nos últimos meses, avaliam analistas. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA-15 ficou em 0,25%, taxa muito aquém da previsão mais otimista do mercado. Com isso, o tema dos preços de combustíveis volta à pauta.
"Talvez fosse a hora de a Petrobras pensar seriamente em elevar os preços dos combustíveis", afirma o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. Segundo ele, um aumento de 10% na refinaria (o que reduziria pela metade a defasagem estimada) teria impacto em torno de 0,40 ponto porcentual no IPCA de 2012, "o que seria mais do que compensado pela folga que o BC ganhou no 1.º trimestre", argumenta.
Nos cálculos do economista, o IPCA em março deve ficar entre 0,35% e 0,40%, "o que levaria a inflação ao fim do primeiro trimestre para algo próximo de 5,40% no acumulado em 12 meses, 0,50 ponto abaixo do esperado pelo BC em dezembro de 2011". Com essa folga, o governo nem precisaria, em caso de eventual reajuste dos combustíveis, utilizar da desoneração tributária via Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para atenuar o impacto sobre os preços.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB, concorda com a avaliação. "Dados os preços do petróleo elevados, o governo até pode se convencer de que a inflação está realmente convergindo para o centro da meta e permitir um reajuste nos preços de combustíveis", diz. Porém, ele acredita que, se vier de fato o aumento, o mercado deve rever para cima suas expectativas para o IPCA. Sem aumento nos combustíveis, Rostagno projeta taxa de 5,31% para o IPCA deste ano.