A inflação brasileira medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuou em junho a trajetória de queda, chegando a 0,15% no mês, após registrar variação de 0,45% em maio. Apesar disso, no acumulado dos últimos 12 meses o índice atingiu seu maior patamar em seis anos, registrando 6,71%, valor acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central o centro da meta é de 4,5%, com variação de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo. Junho marca o terceiro mês consecutivo em que o índice fica acima do teto.
A alta no acumulado em 12 meses reflete a exclusão do índice de junho de 2010, quando o IPCA teve resultado zero como o índice do mês passado é maior, na soma dos meses o IPCA também aumentou.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo IPCA, a desaceleração em junho é explicada pela deflação no grupo de alimentação e bebidas que saiu de uma alta de 0,63% em maio para -0,26% em junho e nos combustíveis, que, embora estejam mais caros que há um ano, tiveram variação negativa de 4,25% entre os dois meses. Diante da menor pressão dos preços de produtos agrícolas no atacado e da maior oferta de álcool com o começo da safra de cana, já era esperada deflação dos preços de combustíveis e de alimentos.
Sinal amarelo
Desde o início do ano, o BC vem elevando a taxa básica de juros, mecanismo utilizado para tornar as compras especialmente a prazo mais caras, reduzindo a demanda por produtos e serviços e forçando os preços a se acomodar. Especialistas apontam que as políticas para frear o consumo estão surtindo efeito, mas que é cedo para "cantar vitória".
As instituições financeiras e o mercado esperavam um IPCA mais fraco em junho. Por isso, o cenário de incerteza em relação à inflação continua, segundo Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil. "A batalha não acabou. O fato de a taxa ter vindo fora do consenso acende um alerta para risco inflacionário. Ainda que a inflação esteja rodando num nível baixo em relação aos últimos meses, alimenta o debate e mantém as incertezas que existiam sobre a dinâmica inflacionária."
Os economistas Silvio Campos Neto e Thiago Curado, da Tendências Consultoria Integrada, veem um caráter pontual na desaceleração de junho e alertam para a possibilidade de taxas mais altas ao longo dos próximos meses, com o fim das quedas em transportes e alimentação. "Ainda persiste um cenário de preocupante inflação de demanda", afirmaram.
Serviços
Enquanto o IPCA reduziu sua alta em junho, a inflação de serviços registrou ligeira aceleração, de 0,59% para 0,60%. Entre os destaques estão os aumentos de preços de hotéis, estacionamento, clube, manicure, cabeleireiro, aluguel, condomínio, colégios e conserto de automóvel.
A principal razão para a pressão no setor de serviços é o avanço da renda, segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Vários serviços importantes no orçamento das famílias vêm apresentando altas aceleradas, em particular os de empregado doméstico.
"[A inflação de serviços sobe] não só diante da vinculação com o salário mínimo, que vem aumentando acima da média de inflação do país, como também pela própria demanda. Com a renda mais alta e com a opção de emprego em outros setores, tem ficado mais escasso o serviço de empregado doméstico", explicou Eulina. Os serviços corresponderam a um terço dos 3,87% da inflação acumulada no primeiro semestre.
Apesar de trégua, Curitiba ainda é capital mais inflacionada
O IPCA em Curitiba apresentou deflação de 0,15% em junho, a maior queda entre as 11 regiões pesquisadas pelo IBGE, mas a cidade continua com a inflação mais alta do país no acumulado do ano (4,39%) e dos últimos 12 meses (8,28%). O resultado de junho se deve principalmente à queda dos combustíveis (-8,99%), que causou impacto de -0,44 ponto porcencutal no indicador da cidade. Mas esse cenário não deve continuar nos próximos meses, alerta o economista Gilmar Mendes Lourenço, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). "Não dá para esperar ganhos nessa área de combustível no próximo semestre. Os preços já voltaram a subir", diz.
No primeiro semestre, o IPCA de Curitiba foi muito influenciado pela alta de itens como a taxa de esgoto e água e o transporte coletivo. Em abril, passou a incidir a nova tarifa da Sanepar, que reajustou as contas em 16%, e a tarifa de ônibus também teve aumento no período. Como esses itens só devem voltar a subir em 2012, os preços podem ter algum alívio no segundo semestre. Em julho, no entanto, o IPCA vai contabilizar o reajuste na conta de luz a Copel foi autorizada a elevar em 3,16% a tarifa residencial.
"É possível que tenhamos uma desaceleração da inflação, mas não para um patamar negativo", afirma Lourenço. Para ele, uma área que deve pressionar os preços nos próximos meses é a agricultura. "Com o inverno mais rigoroso, talvez tenhamos problemas nos hortifrutigranejeiros e nos derivados da pecuária", diz.