Embora mais caros que em 2010, os combustíveis recuaram 4,25% de maio para junho, dando alívio à inflação| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Análise

IPCA de junho eleva chance de aumento maior da Selic

O economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, destacou ontem que revisou de 40% para 50% a probabilidade de um aumento na taxa básica de juros, a Selic, na reunião de outubro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. A mudança foi realizada depois do anúncio de que o IPCA ficou em 0,15% em junho, porcentual superior à expectativa da Prosper – a corretora esperava 0,04%, número que representava o piso das expectativas do mercado financeiro.

Segundo Eduardo Velho, foram mantidas no cenário da Prosper as expectativas de mais dois ajustes consecutivos de 0,25 ponto porcentual nas duas próximas reuniões do Copom, que ocorrem em julho e agosto. Com isso, a projeção oficial da corretora para a Selic em 2011 é de uma taxa de 12,75%, mas cresceram as chances de que ela atinja o nível de 13% ainda este ano.

"O fato concreto é que, excluindo a sazonalidade favorável dos preços agrícolas e a devolução dos preços dos combustíveis, o IPCA na margem continuaria registrando altas ainda superiores à meta central de 4,5%", diz o analista. "Os núcleos em termos anualizados continuam elevados, acima de 6%, ressaltando que, no mesmo período do ano passado, esses núcleos do IPCA estavam recuando de forma mais intensa", salientou.

O ponto mais preocupante dos resultados do IPCA, de acordo com analistas, é o forte avanço dos custos dos serviços – que se mantêm em alta em meio à deflação de outros itens, como os alimentos. Esse cenário, dizem os economistas, realça dois pontos que merecem atenção das autoridades econômicas: a indexação da economia e a falta de mão de obra, que estaria acarretando aumentos de salários superiores à inflação.

O professor de Economia da PUC-SP e economista-chefe da Siemens Brasil, Antonio Corrêa de Lacerda, alerta que esse quadro inflacionário deve perdurar por 18 a 24 meses porque é uma inflação que está se autoalimentando.

Salários pressionam

Para o sócio da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros, a ameaça da inflação é maior do que as pessoas creem. Para ele, a inflação de serviços não deve cair tão cedo, já que esses preços são ajustados com base na inflação passada e crescem em meio a um quadro de falta de mão de obra que garantirá aumentos reais de salários de determinadas categorias neste segundo semestre.

O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, acredita que serão necessários dois aumentos da taxa básica de juros para desarmar a inflação do setor de serviços, que tende a se elevar com as pressões já contratadas, como os dissídios coletivos do segundo semestre e o ajuste em 2012 de 14% do salário mínimo em termos nominais e de cerca de 7,5% em termos reais.

Agência Estado

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IGP-DI

Preços no atacado caem 0,13% no mês

O Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) teve variação negativa de 0,13% em junho, contra uma alta de apenas 0,01% em maio, informou ontem a Fundação Getulio Vargas. No acumulado do ano até junho, o IGP-DI expandiu-se 2,95%. Em 12 meses, o aumento foi de 8,63%. Dois dos três componentes do IGP-DI recuaram. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) teve deflação de 0,19% – queda mais leve que a de 0,63% do mês anterior. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) inverteu o movimento, passando de uma inflação de 0,51% em maio para uma deflação de 0,18% em junho. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 0,37%, abaixo dos 2,94% de maio.

Confira a comparação da inflação

A inflação brasileira medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuou em junho a trajetória de queda, chegando a 0,15% no mês, após registrar variação de 0,45% em maio. Apesar disso, no acumulado dos últimos 12 meses o índice atingiu seu maior patamar em seis anos, registrando 6,71%, valor acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central – o centro da meta é de 4,5%, com variação de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo. Junho marca o terceiro mês consecutivo em que o índice fica acima do teto.

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Confira o simulador de inflação

A alta no acumulado em 12 meses reflete a exclusão do índice de junho de 2010, quando o IPCA teve resultado zero – como o índice do mês passado é maior, na soma dos meses o IPCA também aumentou.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo IPCA, a desaceleração em junho é explicada pela deflação no grupo de alimentação e bebidas – que saiu de uma alta de 0,63% em maio para -0,26% em junho – e nos combustíveis, que, embora estejam mais caros que há um ano, tiveram variação negativa de 4,25% entre os dois meses. Diante da menor pressão dos preços de produtos agrícolas no atacado e da maior oferta de álcool com o começo da safra de cana, já era esperada deflação dos preços de combustíveis e de alimentos.

Sinal amarelo

Desde o início do ano, o BC vem elevando a taxa básica de juros, mecanismo utilizado para tornar as compras – especialmente a pra­­zo – mais caras, reduzindo a demanda por produtos e serviços e forçando os preços a se acomodar. Especialistas apontam que as políticas para frear o con­­sumo estão surtindo efeito, mas que é cedo para "cantar vitória".

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As instituições financeiras e o mercado esperavam um IPCA mais fraco em junho. Por isso, o cenário de incerteza em relação à inflação continua, segundo Roberto Pado­vani, estrategista-chefe do Banco WestLB do Brasil. "A batalha não acabou. O fato de a taxa ter vindo fora do consenso acende um alerta para risco inflacionário. Ainda que a inflação esteja rodando num nível baixo em relação aos últimos meses, alimenta o debate e mantém as incertezas que existiam sobre a dinâmica inflacionária."

Os economistas Silvio Campos Neto e Thiago Curado, da Tendên­cias Consultoria Integrada, veem um caráter pontual na desaceleração de junho e alertam para a possibilidade de taxas mais altas ao longo dos próximos meses, com o fim das quedas em transportes e alimentação. "Ainda persiste um cenário de preocupante inflação de demanda", afirmaram.

Serviços

Enquanto o IPCA reduziu sua alta em junho, a inflação de serviços registrou ligeira aceleração, de 0,59% para 0,60%. Entre os destaques estão os aumentos de preços de hotéis, estacionamento, clube, manicure, cabeleireiro, aluguel, condomínio, colégios e conserto de automóvel.

A principal razão para a pressão no setor de serviços é o avanço da renda, segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Vários serviços importantes no orçamento das famílias vêm apresentando altas aceleradas, em particular os de empregado doméstico.

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"[A inflação de serviços sobe] não só diante da vinculação com o salário mínimo, que vem aumentando acima da média de inflação do país, como também pela própria demanda. Com a renda mais alta e com a opção de emprego em outros setores, tem ficado mais escasso o serviço de empregado doméstico", explicou Eulina. Os serviços corresponderam a um terço dos 3,87% da inflação acumulada no primeiro semestre.

Apesar de trégua, Curitiba ainda é capital mais inflacionada

O IPCA em Curitiba apresentou deflação de 0,15% em junho, a maior queda entre as 11 regiões pesquisadas pelo IBGE, mas a cidade continua com a inflação mais alta do país no acumulado do ano (4,39%) e dos últimos 12 meses (8,28%). O resultado de junho se deve principalmente à queda dos combustíveis (-8,99%), que causou impacto de -0,44 ponto porcencutal no indicador da cidade. Mas esse cenário não deve continuar nos próximos meses, alerta o economista Gilmar Mendes Lourenço, presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes). "Não dá para esperar ganhos nessa área de combustível no próximo semestre. Os preços já voltaram a subir", diz.

No primeiro semestre, o IPCA de Curitiba foi muito influenciado pela alta de itens como a taxa de esgoto e água e o transporte coletivo. Em abril, passou a incidir a nova tarifa da Sanepar, que reajustou as contas em 16%, e a tarifa de ônibus também teve aumento no período. Como esses itens só devem voltar a subir em 2012, os preços podem ter algum alívio no segundo semestre. Em julho, no entanto, o IPCA vai contabilizar o reajuste na conta de luz – a Copel foi autorizada a elevar em 3,16% a tarifa residencial.

"É possível que tenhamos uma desaceleração da inflação, mas não para um patamar negativo", afirma Lourenço. Para ele, uma área que deve pressionar os preços nos próximos meses é a agricultura. "Com o inverno mais rigoroso, talvez tenhamos problemas nos hortifrutigranejeiros e nos derivados da pecuária", diz.

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