Controle
Consumidor varia locais de compra em busca do melhor preço
Na casa da professora de italiano Maria Inês Carvalho Correia, de 46 anos, a ordem é pesquisar preços. Segundo ela, a inflação tem supreendido a família. "Há alguns dias fui fazer uma compra pequena no supermercado. Achei que iria gastar em torno de
R$ 40, mas quando cheguei ao caixa levei um susto. A conta tinha ficado em R$ 80", lembra. Segundo ela, os gastos com alimentação e combustível absorvem entre 30% e 40% da renda família.
Com dois filhos Gabriel, de nove anos, e João, de cinco , ela e o marido, o também professor Ademildo Correia, de 41 anos, costumam diversificar os locais de compra para achar preços mais em conta. "Eu geralmente compro em um supermercado, meu marido em outro. Como meus filhos gostam muito de frutas e verduras, também vamos a quitandas e compramos das chácaras próximas a nossa casa", diz.
Desde o ano passado, a família incorporou uma despesa de R$ 550 por mês ao trocar de carro e os filhos começaram recentemente a fazer natação. Com o aumento das despesas, a intenção é não fazer muita extravagância nas compras nos próximos meses, diz Maria Inês.
Estável, em 0,1% foi em quanto ficou o consumo das famílias, principal motor da economia brasileira nos últimos dois anos, no primeiro trimestre de 2013, segundo os cálculos feitos pelo IBGE. Também de acordo com o Instituto, o PIB do país decepcionou e avançou apenas 0,6% nos três primeiros meses deste ano.
A inflação alta já afeta o padrão de consumo das famílias. O avanço médio de 6,5% nos preços nos últimos 12 meses encerrados em maio, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, apertou o orçamento.
O primeiro sinal de que os preços e o endividamento estão comprometendo a renda veio com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. O consumo das famílias, principal motor da economia brasileira nos últimos dois anos, ficou estagnado, com variação de apenas 0,1% em relação ao último trimestre de 2012. Os brasileiros voltaram a pesquisar preços com mais afinco, cortar gastos com lazer e adiar compras de bens duráveis.
É o que a família de Marilda Tesser, de 43 anos, está fazendo, depois que viu os gastos com educação, alimentação e combustível subirem nos últimos meses. Ela diz que cada vez que vai ao supermercado os produtos estão mais caros e a saída tem sido cortar despesas. "Antes jantávamos fora uma vez por mês. Agora só fazemos esse programa em datas comemorativas, como aniversários", diz ela, que nos últimos meses passou a economizar também no cabeleireiro. "Hoje faço as unhas e a coloração dos cabelos em casa", diz.
As compras de vestuário também passaram a ser mais seletivas. "Criança perde muitas roupas e calçados, não tem como escapar. Mas estamos controlando", acrescenta.
Marilda que trabalha como técnica em edificações, e o marido, Julio Cesar Tesser, de 51 anos, que é contador, têm três filhos, todos em escola particular. Os gastos com educação, porém, devem aumentar. A filha mais velha, Giovanna, de 17 anos, acaba de passar em Medicina em uma instituição privada. "Não temos dívidas, cuidamos de perto do nosso orçamento, mas mesmo assim não está fácil", afirma.
Para André Luiz Pelizzaro, gestor presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Curitiba, atualmente as famílias estão optando por pagar as contas de dívidas contraídas nos últimos meses e priorizando as despesas ordinárias, como manutenção da casa, antes de voltar a gastar. O comportamento já afeta os resultados do comércio. Segundo dados recentes do IBGE, o varejo teve, em abril, o pior resultado em dez anos no país, com alta de apenas 1,6% na comparação anual.
Bens duráveis
Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos confirma que o consumidor também está mais seletivo na hora de comprar bens duráveis. O levantamento realizado em abril em parceria com a Fecomércio do Rio de Janeiro ouviu mil pessoas em 70 cidades brasileiras e constatou que a parcela dos que pretendem adquirir esse tipo de produto nos próximos três meses caiu de 18%, em abril do ano passado, para 15% neste ano.
Carros e televisores são os itens que tiveram maior queda na intenção de compra. O porcentual dos que pretendem comprar esses produtos diminuiu de 12% para 7% no período, no caso dos carros, e de 14% para 11%, para as TVs. Beneficiados pela alíquota mais baixa do IPI, geladeiras e fogão registram aumento de intenção de compra.
Mudança de comportamento afeta negócios e gera demissões
Saem de cena jantar fora, ir a shows e teatros, por exemplo, e entram o churrasco em casa com os amigos e o cinema. A mudança de comportamento do consumidor nos últimos meses já tem impacto nos negócios de alguns setores.
Os bares e restaurantes registraram uma queda de 20% a 30% no movimento de clientes, situação agravada também pelo maior rigor na fiscalização do cumprimento da Lei Seca. "Já ouvi de um cliente que os preços estão muito caros e que hoje ele prefere fazer o churrasquinho com os amigos em casa que sair para ir a um restaurante", conta o empresário Gustavo Haas, proprietário dos bares Taco El Pancho, Sheridans, Peggy Sue e Soviet em Curitiba.
Com a queda no movimento, ele já mandou 15 funcionários embora neste ano hoje está com 75 empregados e suspendeu o projeto de abertura de um novo bar, com temática esportiva, para a Copa do Mundo. "Tenho mais de 20 anos de mercado, vivi muitas crises, mas a diferença dessa vez é que não vemos uma saída no curto prazo", diz.
Segundo o diretor executivo do Associação dos Bares e Restaurantes (Abrasel) no Paraná, Luciano Bartolomeu, os restaurantes também sentiram uma queda nos negócios durante o dia. "Houve uma diminuição do ticket médio, de 3% a 6%, o que significa que as pessoas também estão controlando mais suas despesas durante o almoço", diz.
A situação está tão complicada, de acordo com ele, que alguns restaurantes já começam a fechar as portas. "Era um setor que vinha crescendo muito, mas hoje estima-se uma redução de 10% no número de estabelecimentos", diz. De acordo com a Abrasel, o estado tem 50 mil bares e restaurantes, 10 mil somente em Curitiba.
Tristeza de uns...
Se alguns setores perdem vendas, outros estão ganhando. Redes de cinemas, por exemplo, sentiram aumento do movimento de espectadores, que, ao que parece, vêm trocando atividades mais caras, como shows e teatros, por programas mais em conta.
Na rede Cineplus, que administra salas de shoppings nos bairros Água Verde, Jardim das Américas, Xaxim e em cidades como Castro e Campo Largo, por exemplo, o número de clientes cresceu 20% no último trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o diretor geral, Milton Durski. "No primeiro trimestre, as vendas foram mais fracas, mas a partir de abril tivemos uma reação grande". Segundo ele, a expectativa é grande para as férias de julho. "Muita gente não vai viajar nesse ano. A saída será levar as crianças ao cinema", prevê.
Colaborou Helena Salgado
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