A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) veio bem acima do esperado em novembro, chegando a 0,86%, ante 0,62% no mês anterior. Analistas de mercado esperavam no máximo 0,77%. Para economistas, o comportamento do índice eleva as expectativas de aperto monetário, com um provável aumento da taxa de juros para segurar os preços. No ano, a taxa acumula alta de 5,07% e em 12 meses, de 5,47%.
Mais uma vez, os vilões foram os produtos alimentícios, que contribuíram sozinhos com mais da metade da taxa. Com alta de 2,11% em novembro, ante 1,70% em outubro, o grupo de alimentos e bebidas foi pressionado sobretudo pelas carnes, que subiram 6,10% no mês e já acumulam reajuste de mais de 20% este ano.
Houve altas expressivas em outros alimentos importantes nas despesas das famílias, como feijão carioca (10,83%), açúcar cristal (14,05%), tomate (10,28%), batata-inglesa (9,96%), feijão preto (7,15%), farinha de trigo (5,76%) e açúcar refinado (4,50%).
O IPCA-15 é uma espécie de prévia do IPCA, índice oficial de inflação e que é referência para a meta de inflação do governo (4,5% em 2010). Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados de 14 de outubro a 12 de novembro e comparados com aqueles vigentes de 14 de setembro a 13 de outubro de 2010. O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange nove regiões metropolitanas, incluindo Curitiba, e duas capitais do país.
Gian Barbosa, analista da Tendências Consultoria, acredita que a forte pressão dos alimentos "é reflexo da valorização das cotações agrícolas decorrente de problemas climáticos domésticos e também internacionais". Ele destacou também o espalhamento nos aumentos de preços e revisou a projeção de IPCA fechado em 2010 de 5,3% para 5,6%.
Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), a tendência inflacionária nos preços dos alimentos no varejo deve persistir até o fim do ano. Levantamento da FGV mostra que a inflação das matérias-primas agropecuárias no atacado, de repasse quase automático nos preços dos gêneros alimentícios ao consumidor, atingiu em novembro o maior patamar em mais de dois anos. Além disso, as matérias-primas brutas agropecuárias comercializáveis (commodities) atingiram a primeira taxa positiva acumulada do ano, com alta de 6,61% nos 12 meses encerrados em novembro, a maior em quase um ano e meio. "Isso vai levar a novos repasses de aumentos de preço nos alimentos no varejo. A cadeia de derivados destes produtos é muito longa junto ao consumidor", alerta o responsável pelo levantamento e coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros.
Ele lembra que a onda de aumentos originados do setor agropecuário começou nos últimos dois meses. Porém, a partir de novembro, a intensidade das altas mostrou que a inflação não está arrefecendo. "Ainda não posso fazer uma estimativa para a inflação de 2011. Mas podemos dizer que existem combustíveis novos para novos surtos de elevação. O que nós podemos descartar é a ideia de que o pior já passou."
Na prática, as elevações de preços são mais intensas em produtos relacionados a commodities agrícolas. O analista da Scot Consultoria Alex Lopes da Silva comentou que produtos como farelo de soja e subprodutos de algodão estão mais caros no mercado. De acordo com Silva, alguns produtos, como o caroço de algodão, começam a faltar no mercado. "Os alimentos concentrados proteicos estão mais caros", resumiu.
Para a economista do Santander Tatiana Pinheiro, o cenário atual nos preços das matérias-primas agropecuárias é um fator a mais para elevar as expectativas quanto aos resultados dos indicadores de 2011. "Creio que estamos nos distanciando do centro da meta inflacionária para o ano que vem (de 4,5%)" disse Tatiana, acrescentando que a projeção do banco para o IPCA de 2011 é de 5%.