Buenos Aires - Os argentinos completaram três anos com duas inflações simultâneas e contraditórias. Essa situação é provocada pela existência de um dueto de índices inflacionários, o "oficial" e o "real". O primeiro começou a ser elaborado pelo governo do então presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e continuou sendo preparado pela administração de sua sucessora, e esposa, Cristina Kirchner. O segundo é um amontoado de cálculos realizados por consultorias independentes. Enquanto o primeiro, feito pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), indicou que a inflação de 2009 foi de 7,7%, o segundo está ao redor de 15% a 16%.
Segundo a consultoria Economia y Regiones, a alta inflacionária de 2009 é de 16%. A consultoria Estudio Bein e Associados também calculou uma inflação de 16%. A Fundação de Investigações Econômicas Latino-americanas (Fiel) indicou que a inflação teria sido de 17,3%. A Ecolatina, fundada pelo ex-ministro da Economia, Roberto Lavagna, a estima em 15,3%. A Prefinex calcula que teria sido de 14,8%.
Desta forma, os argentinos tiveram no ano passado uma inflação "oficial" que foi apenas a metade da inflação denominada "real". Nas ruas, os argentinos destacam que a inflação do Indec parece um delírio estatístico, já que os preços dos alimentos, serviços, entre vários outros, não param de subir.
Em dezembro, a inflação novamente entrou em ritmo de escalada, devido à recuperação econômica incipiente. O governo afirma que a inflação foi de 0,9%. Mas, os economistas afirmam que foi de 1,8%. Segundo o Indec, que está sob férrea intervenção desde janeiro de 2007, o país acumulou 37,5% de inflação desde 2006.
No entanto, segundo o índice calculado pela equipe de Graciela Bevaqua, uma ex-funcionária do Indec removida no governo Kirchner por opor-se à camuflagem da inflação, o índice acumulado desde 2006 é de 96,8%. Isto é, duas vezes e meia maior que a inflação calculada pelo governo Kirchner.
Recessão
A inflação foi elevada apesar da recessão que assolou o país no ano passado. Segundo Bevacqua, o índice de inflação de 2009 foi demasiado alto para acompanhar uma queda do PIB de 3% a 4% estimada pelos economistas (o governo, neste caso, também apresenta um índice diferente e afirma que o país cresceu 0,9% no ano passado). "Desta forma, tivemos pelo segundo ano consecutivo um cenário de estagflação", disse Bevacqua.
A intervenção do Indec implicou na remoção ou transferência de técnicos estatísticos que não concordavam com a manipulação do índice de inflação. Diversos funcionários do Indec acusam o polêmico Secretário de Comércio, Guillermo Moreno, de enviar "patotas" (gangues) de caratecas ao próprio prédio do instituto para intimidar os técnicos.
O ano de 2010 promete mais polêmicas sobre a inflação, já que o governo estima que ela estará ao redor de 6,1%. No entanto, os economistas independentes calculam que estaria entre 18% e 20%.
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