A inflação de março veio bem acima do que o mercado esperava: 1,62%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a maior alta para o mês em 28 anos e o maior índice desde janeiro de 2003, quando a inflação registrou 2,25%.
No acumulado do ano, o IPCA já subiu 3,30% e nos últimos 12 meses, o índice acumula uma variação de 11,3% ao ano. Esse cenário de inflação anualizada de dois dígitos, segundo o professor do Insper e CEO da Siegen Consultoria, Fábio Astrauskas, deve continuar a “assombrar” a economia brasileira por algum tempo.
Os vilões da inflação em março
Os maiores vilões da inflação em março foram os transportes (3,02%) e alimentação e bebidas (2,42%). O IBGE aponta que os dois grupos contribuíram com cerca de 72% do índice do mês.
“Tivemos um reajuste de 18,77% no preço médio da gasolina vendida pela Petrobras para as distribuidoras, em 11 de março. Houve também altas nos preços do gás veicular (5,29%), do etanol (3,02%) e do óleo diesel (13,65%). Além dos combustíveis, outros componentes ajudam a explicar a alta nesse grupo, como o transporte por aplicativo (7,98%) e o conserto de automóvel (1,47%). Nos transportes públicos, tivemos também reajustes nas passagens dos ônibus urbanos em Curitiba, São Luís, Recife e Belém”, detalha o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.
A principal contribuição para a alta dos alimentos foi do tomate, cujos preços subiram 27,22% em março. A cenoura acumula uma alta de 166,17% em 12 meses. O leite longa vida (9,34%), o óleo de soja (8,99%), as frutas (6,39%) e o pão francês (2,97%).
“Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram uma pressão inflacionária. Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, analisa Kislanov.
Commodities foram impactadas pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O petróleo apresenta forte volatilidade desde o início do conflito, em 24 de fevereiro. O barril do tipo brent chegou a ser negociado a valores próximos a US$ 140. Nesta sexta, estava sendo negociado a US$ 102,75, segundo a plataforma de investimentos Investing.com.
O trigo, cuja participação dos dois países nas exportações globais chega a 28,3%, aumentou 23,1% em dólares desde o começo da guerra. O milho teve uma alta de 16,1%. Rússia e Ucrânia respondem por um quinto das vendas mundiais.
Outra commodity que foi influenciada pela guerra e por problemas climáticos em importantes regiões produtoras, como o Sul do Brasil, a Argentina e o Paraguai, foi a soja. De lá para cá, os preços aumentaram quase 6%. E o sobe e desce das cotações foi grande. Para contrabalançar, no período, o real teve uma valorização de 7,69% frente ao dólar.
Expectativa de desaceleração
A expectativa da economista Tatiana Nogueira, da XP Investimentos, é de uma desaceleração da inflação em abril, motivada pela revisão da bandeira das tarifas de energia, que passou de escassez hídrica para verde. Os maiores impactos deverão ser sentidos apenas após a segunda metade de abril e início de maio.
Ela aponta que os resultados da divulgação desta sexta-feira aumentam os riscos de curto prazo às projeções de inflação. “Dado que as surpresas foram os itens mais impactados pela guerra, podemos continuar sendo surpreendidos no curto prazo.”
As economistas Júlia Passabom e Luciana Rabelo, do Itaú, escrevem, em relatório, que a inflação em abril deve seguir pressionada pelo reajuste dos combustíveis da Petrobras. Mas para maio há boas perspectivas e a instituição trabalha com o cenário de uma ligeira deflação.
“Incorporamos em maio efeito de corte dos preços nas refinarias, esperado para as próximas semanas. Projeções também consideram bandeira tarifária verde a partir de 16 de abril”, apontam elas. Um primeiro movimento já foi feito pela Petrobras, nesta sexta, ao cortar em 5,58% o preço do botijão de gás para as distribuidoras.
E, segundo o Bradesco, esse quadro de inflação mais persistente, mesmo incorporando o alívio à frente vindo de alguma correção dos preços das commodities e da apreciação do real, continua desafiador para a política monetária nos próximos meses. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve decidir por mais um aumento na taxa básica de juro, está prevista para 3 e 4 de maio.
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